Somos um país homofóbico, misógino, ultraconservador, racista e condescendente com as mazelas políticas. Experimente ler os comentários de qualquer notícia, nas páginas de jornais nas redes sociais, sobre casais LGBTQIA esbanjando felicidade e amor. As reações são quase padronizadas, recheadas de ironia, sarcasmo e ódio. Tem gente que publica até receita de bolo. Estranha mania de querer conduzir a vida alheia e de pensar que as pessoas escolhem ser gays.
O rosto da sociedade brasileira foi exposto nas eleições de 2018. Elegemos como máximo representante da nação um homem que, enquanto deputado, disse a uma colega parlamentar que ela "não merecia ser estuprada". Alguém merece tamanha hediondez? E o que dizer do discurso durante a votação pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, durante o qual ele dedicou o momento a um torturador? O filho do presidente teve a empáfia de fazer piada (?) com uma jiboia usada na cela da jornalista Míriam Leitão, no quarto mês de gravidez.
No Brasil, não nos causam mais indignação notícias de que uma dupla de pastores exigia 1kg de ouro de prefeitos para repassar verba do Ministério da Educação ou a impressão de exemplares da Bíblia com a foto (pasmem!) de um ministro. Ou denúncias de que o governo atrasou sobremaneira a compra de vacinas contra a covid-19 enquanto milhares de cidadãos morriam. Não nos provocam asco declarações estapafúrdias vindas de autoridades do mais alto escalão. Nem a aquisição de 35 mil comprimidos de Viagra ou de 557 mil quilos de filé para as Forças Armadas.
Viramos uma teocracia com fundamentos às avessas. Muitos brasileiros temem a Deus, mas amam as armas. Adoram ao Senhor, mas odeiam gays e lésbicas. Têm orgulho das raízes socioculturais do país, mas esbanjam racismo e intolerância. O Brasil se julga uma democracia, mas prefere desprezar a imprensa e acreditar como fato o que se propaga na lama tóxica das redes sociais. O Brasil deixou de se preocupar com a saúde e com a educação, no momento em que o próprio Estado relegou o bem-estar social a segundo plano. Somos a antítese de nós mesmos. Uma nação gigante, com potencial também gigantesco, que se apequenou nos últimos anos. Uma pátria-mãe cujos alguns de seus filhos são obrigados a comer osso, a revirar lixões e a implorar por ajuda nos semáforos e nas portas dos supermercados. O que faz o brasil, Brasil? Que país é este?