Cláudio Medeiros - Presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon)
Em apenas 10 anos, o Brasil deixou o lugar de destaque que ocupava no ranking de países exportadores de engenharia para assistir o avanço das empreiteiras estrangeiras, principalmente, as chinesas na América Latina. Somente uma única estatal do país asiático concentra cerca de US$ 10 bilhões em investimentos na região, A exportação de serviços há anos vem sendo utilizada por países como Estados Unidos (EUA), Japão, Alemanha e Reino Unido para fomentar o desenvolvimento de suas cadeias produtivas e aumento de suas respectivas influências geopolítica.
Infelizmente, nos últimos anos, a exportação de serviços saiu da pauta brasileira em decorrência da politização descontextualizada, deixando espaço para o avanço das empresas chinesas e europeias na América Latina. Também os Estados Unidos apoiaram a ofensiva em países como Argentina, Uruguai e Colômbia. A gestão Joe Biden, ao anunciar um pacote trilionário para infraestrutura, chamou o movimento de Plano de Emprego Americano. A atividade de infraestrutura, seja no Brasil ou no exterior, é reconhecida pela alta formalização do emprego.
Ao observar o apetite dos gigantes econômicos mundiais pelo segmento, é possível identificar que a narrativa que predominou no Brasil nos últimos anos é cercada de mitos que escondem os verdadeiros benefícios de uma política estruturada de longo prazo para a exportação de serviços. A exportação de infraestrutura não drena recursos nacionais e não é beneficiada por taxas de juros privilegiadas.
Ao contrário, gera empregos no país de origem do prestador dos serviços, fomenta o fortalecimento da indústria nacional e ativa uma longa cadeia fornecedora de bens e serviços de alto valor agregado do país, envolvendo grandes, médios e pequenos produtores. Projetos de infraestrutura são de longo prazo, reverberando os efeitos benéficos na economia por anos.
A exemplo dos nossos vizinhos, o Brasil, carente de projetos de infraestrutura para atender a população de forma adequada nos segmentos de energia, saneamento, transporte, conectividade, entre outros, hoje passou a ser um importador de serviços de engenharia, o que nunca foi tradicional em nossa história. Como assinalado no plano norte-americano, infraestrutura é mais do que pontes e estradas, é competitividade global.
Projetos como o Porto Sul e a Ferrovia do Pará, financiados por agências de crédito chinesas e conduzidos por uma empresa desse país, concentram cerca de US$ 2 bilhões em investimentos. Recursos que serão empregados no país de origem da construtora para a contratação de matéria-prima local e investimento em tecnologia e inovação.
Estudo do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon) mostra que, a cada R$ 1 milhão investido em infraestrutura, 34 novos postos de trabalho são gerados, além oportunidades indiretas que impactam uma cadeia produtiva de mais de 4 mil fornecedores. O incremento no Produto Interno Bruto (PIB) do país é de R$ 1,44 milhão.
Buscar a ampliação de mercados não é uma tarefa fácil. É preciso experiência comprovada em obras complexas de engenharia, contar com boas práticas de compliance, arcabouço legal sólido, relacionamento geopolítico profícuo e condições de financiamento. O país e as empresas de construção pesada avançaram muito nos últimos anos nesses itens. A repentina paralização das linhas de crédito à exportação coloca em risco o avanço conquistado pelas empresas brasileiras.
Países como China, EUA, Alemanha, França, Índia, Japão e Reino Unido que têm bancos altamente comprometidos com a política de financiamento de projetos de exportação de engenharia, agradecem a paralização brasileira e avançam nos mercados abandonados pelo Brasil.
Assim como o agronegócio, que se desenvolve com as exportações e ocupa lugar de destaque na economia, movimentando uma enorme cadeia produtiva, a indústria brasileira precisa de políticas sólidas e fomento para voltar a crescer e conquistar novos mercados. Ganha o Brasil ao voltar a ocupar lugar de destaque no cenário internacional e impulsionar a balança comercial. Ganham os brasileiros, com os novos postos de trabalho que serão criados, geração de renda para as famílias e atração de investidores privados.