No mais recente boletim, divulgado na sexta-feira, pesquisadores do Observatório Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz, afirmam que os novos dados sobre a pandemia permitem afirmar que a terceira onda de coronavírus, provocada pela disseminação da variante ômicron, está em fase de extinção no Brasil. Pela primeira vez, desde maio de 2020, nenhuma unidade da Federação, em decorrência do vírus, superou a marca de 0,3 mortes por 100 mil habitantes. Apesar do otimismo, eles ressalvam que isso não significa o fim da pandemia no país.
Na mesma semana, na quarta-feira, outro estudo da mesma Fiocruz mostrou que o percentual de covid-19 entre os casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) era o menor desde o começo da crise epidemiológica no Brasil. "Nas últimas quatro semanas, corresponderam a 50,7% em resultado laboratorial positivo para vírus respiratório. Ao longo do período mais crítico da doença no país, cerca de 96% dos casos de SRAG com identificação laboratorial eram por covid", atesta a fundação.
No boletim do observatório, os pesquisadores dizem que o cenário — o levantamento abrange o período de 20 de março a 2 de abril — sinaliza para uma redução gradual dos principais impactos da crise sanitária no sistema de saúde, como os números de infecções graves, internações e óbitos. Os dados mais recentes deste mês, com queda no número de casos graves e de mortes, corroboram o estudo. Na última sexta-feira, por exemplo, a média móvel de mortes de sete dias estava em 106 (era 206 sete dias antes). A de casos, 21.444 (contra 24.533).
No entanto, os cientistas afirmam que a redução nos indicadores de gravidade da pandemia se deve principalmente à imunização de grande parte da população e à menor gravidade das infecções pela ômicron. E alertam que a situação pode ser alterada caso surjam variantes mais letais ou que escapem da imunidade propiciada hoje pelas vacinas. No estudo, eles voltam a defender o uso de máscaras em ambientes fechados — restrição já flexibilizada em grande parte do país — como forma de reduzir os riscos de contágio.
Aliás, no que diz respeito à imunização, os cientistas da Fiocruz enfatizam a importância fundamental da vacina para frear a escalada do cornavírus. Afinal, o patógeno provocou uma tragédia sem precedentes no mundo, com quase 500 milhões de casos e mais de 6 milhões de mortes. No Brasil, desde o início da pandemia, infectou mais de 30 milhões de pessoas e tirou a vida de mais de 661 mil. Apenas depois que a vacinação começou a avançar de forma mais efetiva, esse quadro deu sinais de melhora no país.
Por isso, eles defendem que é preciso estender a vacinação para regiões ainda com baixa cobertura. Ampliar a imunização de crianças, público entre o qual o alcance da campanha ainda está aquém do esperado. E reforçar a aplicação de terceira e quarta doses em adultos. Os dados coletados pela Fiocruz mostram que, hoje, idosos e crianças são os dois grupos mais vulneráveis. Enquanto metade das mortes ocorre entre pessoas com 74 anos ou mais, cresce o número de casos entre os pequeninos.
Na nova fase, com o coronavírus em baixa, um dos desafios do Brasil será readequar o sistema público de saúde para voltar a atender demandas represadas, como a retomada de cirurgias eletivas, suspensas durante as fases mais agudas da pandemia. A capacitação de profissionais para atividades de vigilância e cuidado, o reforço da atenção primária e o atendimento a pacientes com síndrome pós covid-19 são algumas iniciativas sugeridas pela Fiocruz.