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Artigo

Ana Dubeux: Meus filhos e os filhos que o mundo me deu

Sou do tempo em que se dizia "onde comem quatro, comem cinco". Também da época em que criar filho era botar no mundo, alimentar, garantir estudo e bons valores, e torcer para que desse netos, arrumasse trabalho e tivesse uma vida feliz - e não era preciso grande coisa para achar que a vida era boa. Parecia simples e já não era. Nunca foi.

O que mudou foi que a complexidade de colocar um ser humano no mundo virou tangível. Objeto de discussão, de tese e até de educação dos pais. E é bom que seja assim. Tem que ser uma escolha, consciente e respeitosa. Tem que pensar em cada passo para educar e manter uma criatura nessa Terra, que se tornou um planeta tão cheio de animosidade e perdas. Tem estudos e cursos sobre parentalidade. Tem livros, teses, vídeos inspiracionais e até leis.

Será que é possível aprender a ser pai e mãe? Pensei nisso ao me deparar com a efeméride Dia do Filho, no último 5 de abril. Não propriamente pela data inventada - só mais uma dentre tantas. Nosso aprendizado como pais leva uma vida e não acaba nunca.

Aprendemos todos os dias, e não apenas com os filhos. Aprendemos quando conversamos intimamente conosco mesmo sobre essa experiência de ensinar, guiar - ou pelo menos tentar. Aprendemos com os filhos de nossos amigos, com sobrinhos, afilhados, enteados, com a turma jovem do trabalho.

Ao longo da minha trajetória profissional, lidei com tantos jovens repórteres e estagiários. Eles passam por nossas vidas, entrando e saindo, deixando o legado da juventude, das bobagens, das risadas, da inteligência, da rebeldia e, em alguns casos, da arrogância. Alguns acompanho até hoje; outros, vejo aqui e ali pelas redes sociais; de outros ainda, guardo lembranças.

É curioso assistir a mudanças, evolução profissional, formação de novas famílias, tombos e vitórias. A gente fica na torcida, como espectador, certa de que de algum modo, demos aquele toque ou lição, não necessariamente certos, mas que pode ter servido para alguma coisa.

Adoro conviver com crianças e jovens, muito embora a minha geração estranhe as novas. O fato é que é possível aprender tanto quanto ensinar. Em algum momento, eles entendem que também faz parte "o aprender a ser filho" e que isso começa quando a velhice chega para dar o recado: agora é hora de cuidar. Também faz parte aprender a ser chefe e liderar, inspirar e esperar que, de alguma forma, outra geração perpetue o que você ofereceu de bom.