Falta de fôlego político, ideológico e partidário. São essas as possíveis e mais críveis características que poderiam explicar o decepcionante desempenho, até agora, da terceira via. A priori, é preciso deixar claro que consenso, assim como seu correlato, o bom senso é atributo que o mundo político nacional não exercita, por desconhecer e, também, desprezar, o que lhe retira nacos de poder ou, mais precisamente, recursos e outros benefícios materiais assegurados. Não há, de fato, partidos políticos no Brasil, capazes de seguir linhas ideológicas e programáticas, independentemente do governo de plantão. São legendas formadas ao sabor das ocasiões, clubes interessados em causas próprias e no bem-estar de seus sócios, sobretudo das lideranças.
O que temos é uma pantomima política, distante do que sonham os eleitores atentos e do que exige a ética pública. Dessa forma, fica a explicação: não há terceira via, pois não há partidos fortes e independentes, capazes de entender o momento que se anuncia de grave polarização. É com essa visão que as mais de 30 legendas, coladas nas tetas dos cofres da União, enxergam os cidadãos, que, para elas, passadas as eleições, eles se transformam num estorvo.
Grosso modo, não há terceira via, porque, simplesmente, não há primeira nem segunda via que possa levar o país ao bom termo. É nessa sucessão de mediocridades que se encaminham as eleições de outubro. É o mais do mesmo. Sem reformas políticas sérias, que colocassem um fim ao foro privilegiado, aos fundos partidários e eleitorais, às emendas secretas, à infidelidade partidária, bem como ao número excessivo e lesivo de partidos, à possibilidade de prisão em segunda instância, ao modelo de suplência, à reeleição e mesmo à impunidade dos políticos, falar em terceira via, ou numa quarta e quinta vias, não significa nada.
Há um problema de origem que não foi sanado por vontade justamente dos partidos tortos existentes. Qualquer desdobramento político a ser feito por meio dos partidos que aí estão para as próximas eleições vem carimbado com o selo e com os vícios de origem tanto da inoperância quanto da continuidade de um modelo que os brasileiros de bem querem ver extinto.
A impossibilidade de candidaturas avulsas e do voto distrital, assim como do dispositivo de recall ou chamada pelos eleitores daqueles políticos que apresentam "defeito" e sua substituição por gente mais capacitada, são empecilhos às mudanças que a nação reclama. Isso não quer dizer que não existam candidatos, isoladamente, bons e que poderiam, caso suas capacidades de desprendimentos fossem maiores que seus egos, fazer alguma diferença no próximo pleito. São os casos de Simone Tebet, Sergio Moro, Eduardo Leite e outros. Caso houvesse a possibilidade de união desses nomes numa chapa extraordinária e suprapartidária poderíamos enxergar alguma luz no fim desse cano escuro.
Ocorre que nem a grande massa de eleitores abduzidos e apolíticos nem os partidos que aí estão apostam um níquel sequer nessa possibilidade e fazem torcida contra. Fôssemos nomear o quadro em preto e branco que aí está posto para as próximas eleições, diríamos se tratar de uma obra abstrata, cujo título seria "Abstração niilista nº 3"