Almir Pazzianotto Pinto - Advogado. Foi Ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho
A cada momento, mais agargalam os caminhos para as eleições presidenciais. As distâncias entre Jair Bolsonaro, Lula, Ciro Gomes, João Doria e Simone Tebet estão se acentuando. Tudo indica que teremos a segunda rodada de votação e que, na reta final, prestes a ultrapassarem o disco de chegada, estarão Lula e Bolsonaro.
Isto significa que a desejada terceira via tem pouco tempo para ganhar terreno com chance de sucesso. O eleitorado conhece Ciro Gomes. Trata-se de político experimentado. Vibrante, eloquente, bom expositor, candidato pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), fundado por Leonel Brizola, ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, a quem a Presidência da República escapou em circunstâncias obscuras quando reunia possibilidades de ser vencedor. Por razões que não consigo decifrar, o paulista de Pindamonhangaba, que governou o Estado do Ceará, não consegue atrair a massa do eleitorado. Até o momento, mal consegue 9% das intenções de voto.
Sergio Moro desistiu de concorrer. Deve ter se lembrado da frase do Padre Antônio Vieira: "Quem quer mais do que lhe convém, perde o que quer e perde o que tem". Transferiu o domicílio eleitoral para São Paulo, com o objetivo de se candidatar a deputado federal. O ex-juiz da Lava-Jato e ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro teve bom senso e se deu conta das dificuldades que cercam a vida política, para quem é jejuno em eleições. Na hipótese de se eleger à Câmara dos Deputados, com razoável número votos, poderá aspirar a liderança da bancada e, na hipótese de ser bem-sucedido, talvez realize o sonho de alcançar a Presidência.
A posição de João Doria é delicada. Renunciou subitamente à candidatura e de imediato voltou atrás. As pesquisas lhe creditam menos de 5% das intenções de voto. Para alguém que se elegeu prefeito da capital e governador de São Paulo, com velocidade meteórica, o desempenho é decepcionante. A campanha pela vacina contra a covid não lhe rende dividendos eleitorais. Vítima da ambição, rachou o PSDB, debilitando a base de apoio.
O confronto Bolsonaro versus Lula, no segundo turno, é péssimo para o país. Lula é o passado conhecido. Bolsonaro, esperanças precipitadas e frustradas. De ambos, pouco se deve esperar. O Brasil aspira por novos valores e pela modernização dos quadros políticos. Aguarda por alguém capaz de galvanizar energias e gerar entusiasmo para a tarefa árdua de reconstrução de país em crise.
A carreira de Lula é conhecida. Inicia-se em 1970 como diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Presidiu a entidade com energia e coragem no período compreendido entre 1975 e 1980. Desafiou empresas automobilísticas. Deflagrou três grandes greves. Enfrentou o regime militar. Foi cassado e acusado de violar a Lei de Segurança Nacional. Disputou o governo de São Paulo e a Presidência da República. Participou da Constituinte. Exerceu dois mandatos e elegeu Dilma Rousseff. Foi preso na Operação Lava-Jato. Respondeu a várias ações penais e, mais de uma vez, se viu condenado em três instâncias. O habeas corpus deferido pelo ministro Edson Fachin, quando se encontrava em liberdade e não era ameaçado de prisão, lhe abriu caminho para se beneficiar com a prescrição. Nesse terreno, nada está bem explicado, salvo a aversão do ministro Gilmar Mendes pelo ex-juiz Sergio Moro, da qual foi Lula o grande beneficiado.
Jair Bolsonaro, capitão do Exército, ao ser reformado e se ver livre dos princípios de disciplina e hierarquia, tratou de explorar os caminhos lodosos da política. Foi vereador no Rio de Janeiro e várias vezes deputado federal. Trocou repetidas vezes de partido e, na Presidência da República, tentou organizar uma legenda que pudesse dizer ser sua. É rude a ponto de ser grosseiro e mal-educado. Administrou a pandemia de forma inescrupulosa e oportunista. Ignorou as medidas determinadas pela ciência, combateu o isolamento social, a máscara e a vacina, para prescrever a cloroquina com a cumplicidade de reduzido círculo de bajuladores. Teve como braço direito o fracassado general Eduardo Pazzuello, substituído pelo inexpressivo Marcelo Queiroga.
Com os demais candidatos exibindo baixa porcentagem de intenções de voto, a terceira via passa a depender de Simone Tebet, senadora pelo Mato Grosso do Sul, ex-vice-governadora, ex-prefeita de Três Lagoas, candidata do MDB. O partido não exibe a força do passado, mas Simone Tebet leva a vantagem de ser honesta, inatacável, combativa e mulher.