Com tantos problemas gravíssimos para serem enfrentados — miséria, fome, inflação, desemprego, renda em queda, violência —, é inaceitável que os Poderes constituídos concentrem esforços para se atacarem mutuamente, deixando de lado os interesses da população. A guerra para saber quem pode mais é perigosa e altamente improdutiva. Portanto, que todos os envolvidos nessa disputa fratricida baixem as armas, pois a hora é de pensar no país, na preservação da democracia, um bem do qual a sociedade jamais pode abrir mão.
Não é de hoje que o Brasil dá sinais claros de que está se desviando para um caminho nada profícuo, com um evidente esgarçamento das instituições. Sinais de alerta vêm sendo emitidos, mas o que se vê é o agravamento da crise que distância os Poderes em vez de aproximá-los, como prevê a Constituição. A pergunta que todos têm feito: a quem interessa uma ruptura entre Executivo, Legislativo e Judiciário? Certamente, não aos defensores do regime democrático, que, apesar das suas imperfeições, tem se mostrado o mais adequado para a garantia das liberdades individuais.
Cada Poder tem seu papel bem definido na Carta Magna. Insistir em ataques ideológicos, ameaças de descumprimentos de decisões jurídicas, populismo barato e bolhas para criar falsas verdades é uma afronta a todos os cidadãos, que esperam das autoridades, independentemente dos cargos que ocupam, se têm votos ou não, que exerçam suas funções com respeito. É o mínimo que se deve esperar num Estado democrático de direito. Infelizmente, para onde quer que se olhe, o desvirtuamento de funções é explícito. Posições pessoais se sobrepõem aos interesses do país.
O momento requer diálogo. O Brasil necessita de serenidade para se reencontrar com o desenvolvimento econômico. Desde 2011, a média anual de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) está em 0,3%. É nada diante dos desafios e das demandas sociais que estão colocadas. A cada atrito entre os Poderes, as incertezas se agigantam. Como convencer empresários e investidores a ampliarem os desembolsos ante a ameaça de que a democracia pode ser solapada? Dinheiro não aceita desaforo. Precisa de confiança, de credibilidade das instituições, da certeza de que as regras serão mantidas.
O Brasil já perdeu tempo demais. E, não bastassem todas as mazelas na economia — há mais de 20 milhões de pessoas que não têm o que comer —, entraram no radar riscos de golpes, de fragilidade do tecido democrático. A hora é de grandeza por parte daqueles que exercem o poder, sem extremismos, e da população, que não pode permitir retrocessos. Sistemas antidemocráticos favorecem poucos, facilitam a corrupção e agravam as desigualdades sociais. Fecham todas as portas para o entendimento e cerceiam o pensamento. O país viveu vários períodos na escuridão. E os resultados foram terríveis, com reflexos sentidos até hoje.
As eleições presidenciais estão a caminho. É um momento especial para que a democracia seja exercida em sua plenitude. Divergências de opiniões são naturais e, se tratadas de forma saudável e respeitosa, engradecem o debate. Que o juízo volte a prevalecer no Executivo, no Judiciário e no Legislativo para que o Brasil possa, finalmente, olhar para seus reais problemas e, assim, resolvê-los. Não é pedir muito. Basta que a intolerância, a arrogância e os interesses escusos sejam jogados no lixo. O país tem jeito. Que o diálogo prevaleça.
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