O mundo acendeu o alerta diante dos sinais claros de que o Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, será mais agressivo no aumento das taxas de juros na maior economia do planeta. Todos os mercados sucumbiram às declarações do presidente da instituição, Jerome Powell, de que chegou a hora de acelerar o passo no aperto monetário, uma vez que a inflação norte-americana não dá trégua. Está em 8% ao ano, o nível mais elevado desde 1981. Juros mais altos nos EUA significam menos recursos circulando pelos mercados globais. Aquele país é visto como porto seguro para os investidores.
O realinhamento da política monetária nos Estados Unidos custará caro aos países emergentes, em especial, ao Brasil. Não bastassem as incertezas na economia, com medidas consideradas bombas fiscais, que, apenas neste ano, podem chegar a R$ 200 bilhões, o país caminha célere para uma grave crise institucional, com o embate entre o Executivo e o Judiciário. Os donos do dinheiro vinham relevando muitos dos problemas brasileiros, devido aos ganhos econômicos proporcionados pela disparada dos preços das commodities. Agora, porém, não só as cotações desses produtos estão perdendo força, como há risco de o Brasil mergulhar num precipício político às vésperas das eleições presidenciais.
Para se ter uma ideia da aversão dos investidores às turbulências provocadas por Brasília, o dólar registrou ontem a maior alta desde março de 2020, início da pandemia do novo coronavírus. A moeda foi cotada a R$ 4,806, com valorização de 4%. Em contrapartida, a Bolsa de Valores, que vinha batendo recordes consecutivos na entrada de capital estrangeiro, tombou quase 3%. O recado foi claro: se insistir no perigoso caminho de testar a democracia a todo instante, o país será riscado do mapa dos fluxos de recursos globais. Dólar mais alto, vale ressaltar, é combustível para a inflação, que está acima de 11% no acumulado de um ano.
É de bom tom, portanto, que aqueles que estão no poder baixem a guarda no sentido de não tumultuar ainda mais o já complicado contexto econômico. As projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano apresentaram ligeira melhora nos últimos dias — o Fundo Monetário Internacional (FMI) elevou sua estimativa para o Brasil de 0,3% para 0,8% —, mas os números ainda estão longe de dar um alívio. Até porque o Banco Central, que tentou ontem, sem sucesso, segurar o dólar, avisou que os juros, de 11,75% anuais, continuarão subindo. Esse arrocho joga contra a produção e o consumo e a favor do aumento do desemprego. É o preço a ser pago pelos erros na economia e, principalmente, na política.
O país, infelizmente, é pródigo em criar conflitos desnecessários. O indulto concedido pelo presidente Jair Bolsonaro ao deputado Daniel Silveira, punido com oito anos e nove meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), trouxe de volta o temor de retrocessos institucionais. Uma bravata como essa pode minar o pouco da confiança que ainda resta por aqui. Os maiores prejudicados, como sempre, são os mais pobres, que já não conseguem botar comida à mesa. O Brasil de tantas desigualdades, que precisa crescer para criar emprego e distribuir renda, não suporta mais esse tensionamento político, nem a polarização exacerbada. Os investidores dispostos a ampliar seus negócios e a contribuir para o desenvolvimento econômico necessitam de previsibilidade. Tudo o que está faltando neste momento. Juízo é bom. E faz bem.
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