David Urbaez - Médico infectologista do Exame Medicina Diagnóstica/Dasa
Em abril, começamos mais uma campanha de vacinação contra a influenza, mais conhecida como gripe. É, sem dúvidas, um momento propício para falarmos sobre como anda a cobertura vacinal da população brasileira. É fato que a vacinação é uma ação de saúde pública e pilar no cuidado geral da população. A partir da implementação dos programas de vacinação, houve um aumento na expectativa de vida de toda a população mundial. Um número expressivo de doenças infecciosas, que mantinham uma grande barreira no desenvolvimento populacional em todo o mundo, foi superado.
No Brasil, isso se traduziu na elaboração de um programa extremamente potente, muito bem implementado e de enorme sucesso, que é o Programa Nacional de Imunizações (PNI). Ao longo das últimas décadas, desde o seu início nos anos 70, foram incorporados ao programa cada vez mais imunógenos, abrangendo uma boa parte das enfermidades importantes dentro do panorama de doenças infecciosas transmissíveis, a exemplo da poliomielite, varíola, sarampo e rubéola.
Porém, a partir de 2016, percebe-se uma grande diminuição nas ações de vacinação no país. Infelizmente, o PNI vem sofrendo uma queda na sua abrangência, com uma ação de desmonte em todos os estados. Com a perda de equipes e o fechamento de salas de vacina, há uma diminuição considerável no acesso às imunizações e, consequentemente, na cobertura vacinal. Soma-se a isso uma corrente de informações falsas sobre imunizações e sobre estudos científicos, o que torna a situação ainda mais complicada.
O fato é preocupante. Dados do Datasus comprovam. Em 2013, por exemplo, a vacinação contra a poliomielite, já erradicada no Brasil desde 1989, chegou a 100%. Em 2021, o número baixou para 67,71%. A vacinação do sarampo também diminuiu. Em 2017, a cobertura era de 86%. Já em 2021, o número despencou para 71%. Diante do cenário atual de descaso na cobertura vacinal, o Brasil corre o risco de reintroduzir essas doenças, extremamente perigosas para a população.
Além disso, a campanha de vacinação contra a influenza, deste ano, não inclui a imunização de crianças de cinco anos de idade, o que está em desacordo com as recomendações da Organização Mundial da Saúde, pois esse grupo é considerado de risco. Quando essas crianças são infectadas pelo vírus, podem desenvolver a forma grave da doença e, em muitos casos, ir a óbito.
Tudo isso é um grande retrocesso. Situações como essa têm sido corriqueiras na implementação do PNI nos últimos seis anos. O resultado são grandes prejuízos à saúde pública e com significativa probabilidade de voltarmos a panoramas antigos em relação às doenças infecciosas que já tinham sido superadas com muita eficácia.
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