Enquanto avança, na Câmara dos Deputados, o projeto de lei de autoria do governo (PL191), também conhecido de PL da mineração, vai levando em seu encalço, e cada vez mais, uma multidão de garimpeiros e aventureiros de toda a ordem e de todos os cantos do país para dentro das terras indígenas. O tal projeto, que, obviamente, tramita em regime de urgência, para não dar tempo para a sociedade acordar a mais esse absurdo, regulamenta, em sua ementa, o § 1º do art. 176 e o § 3º do art. 231 da Constituição "para estabelecer as condições específicas para a realização da pesquisa e da lavra de recursos minerais e hidrocarbonetos e para o aproveitamento de recursos hídricos para geração de energia elétrica em terras indígenas e institui a indenização pela restrição do usufruto de terras indígenas".
Traduzido numa linguagem clara e direta, o que o PL autoriza é a marcha da insensatez e até mesmo o que seria um genocídio anunciado e autorizado pelo Estado contra os povos indígenas, apenas para atender a sanha e o desejo de uma minoria política e econômica que exerce preponderância dentro do atual governo. Depois do PL do Veneno aprovado, chega a vez desse monstrengo, liberando legalmente a invasão das terras e reservas indígenas. Nossa fotografia de momento, perante um planeta que luta para sair do impasse do aquecimento global, nunca esteve tão manchada.
Os relatos assustadores que chegam a todo o momento de diversos povos, sobretudo dos Yanomami, mostram as consequências dessa infâmia a chocar os brasileiros e o mundo. Trata-se aqui de mais um episódio a macular nossa história com as tintas indeléveis do sangue de inocentes. Acometidos por uma espécie de transe febril pelo ouro, um distúrbio psicológico e profundo conhecido a milhares de anos aqui e em outras partes, centenas de homens brancos em busca de metais e pedras preciosas vão deixando nas matas virgens uma longa trilha de crimes.
É o que esses povos indígenas acreditam ser, dentro de sua cultura milenar, a maldição das pedras reluzentes a enlouquecer o homem branco, transformando-o em fera sem alma. Não só os garimpeiros parecem movidos por esse anátema, mas, principalmente, o próprio chefe do Executivo que não esconde seu ódio pelos povos indígenas. Em várias ocasiões, esses povos são atacados, inclusive, perante a Organização das Nações Unidas (ONU) acusados de serem os responsáveis pelas queimadas na Amazônia, entre outros crimes.
Em pronunciamento, ainda como deputado, Bolsonaro chegou a lamentar que a nossa cavalaria, à semelhança do que aconteceu nos Estados Unidos, tenha sido incompetente ao não eliminar os nossos índios. "Não tem terra indígena onde não têm minerais. Ouro, estanho e magnésio estão nessas terras, especialmente na Amazônia, a área mais rica do mundo. Não entro nessa balela de defender terra para índio", disse em 2015. Segundo ele, as reservas indígenas sufocam o agronegócio. Conhecemos muito bem o resultado desse feitiço e o que essa busca desenfreada pelo ouro tem provocado ao longo do tempo. A lista com os resultados dessa atividade primitiva de extração é longa e repleta de crimes de todo o tipo.
O que fica como subproduto dessa exploração são doenças, violência, assassinatos, estupros, muita miséria e devastação nas terras, onde esses minerais ocorrem, sendo inexistentes quaisquer traços de progresso ou de melhorias tanto para habitantes locais quanto para os forasteiros. Já vimos esse filme de horror em lugares como Serra Pelada. Sabemos também das consequências nefastas desse tipo de atividade. Mais do que isso, sabemos muito bem, o fim dessa história e o rastro de destruição de morte que deixam para trás.
Então, por que seguir nesses intentos, aprovando, a toque de caixa, projetos como o PL 191, do Executivo? Caso venha a ser aprovado, como crê o governo e sua bancada de apoio, não será surpresa que mais essa façanha, contra o bom senso e a ética humana venha a ser apresentada mais uma acusação contra o atual mandatário perante o Tribunal Penal Internacional. Os brasileiros que nada parecem saber dessa história macabra vão figurar como coadjuvantes de mais esse atentado, quer queiram ou não, afinal todo esse massacre é feito em nome do progresso da nação. Um progresso que não é apenas o avanço da poeira, mas, como diria o filósofo de Mondubim, "o avanço da mulher da foice".
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