No momento em que o governo brasileiro estuda a mudança do status da pandemia de covid-19 para endemia — classificação dada a doenças recorrentes, como a gripe influenza, contra as quais o sistema de saúde já dispõe de conhecimento e estrutura para lidar —, dados que chegam da Europa sugerem que é melhor o Planalto aguardar mais um pouco. O Reino Unido voltou a registrar novas explosões de infecções por coronavírus, atribuídos à subvariante BA.2, da ômicrom, batendo seguidos recordes de casos positivos. Apesar de mais transmissível, a nova linhagem é considerada menos grave. Mesmo assim, o número de internações hospitalares, principalmente de pessoas acima de 45 anos, voltou a crescer entre os britânicos.
Um dos primeiros países a suspender a obrigatoriedade do uso de máscara em ambientes abertos e fechados e a rebaixar a covid-19 de pandemia para endemia, o Reino Unido também havia deixado de oferecer testes gratuitos contra a doença. Na época, os indicadores de gravidade da doença, como número de casos, internações graves e mortes estavam em queda acelerada. No entanto, a brusca mudança de rota preocupa as autoridades sanitárias: o Escritório Nacional de Estatísticas britânico estima que nada menos de 4,9 milhões de pessoas pegaram a doença na semana passada, contra 4,3 milhões nos sete dias anteriores.
Batizada de ômicron silenciosa, a BA.2, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), superou a BA.1. Nas últimas duas semanas, a subvariante já respondia por 86% de todos os casos sequenciados no mundo. Era preponderante, principalmente, na Europa e na Ásia. E estava em expansão nas Américas. Nos Estados Unidos, os Centros de Controle e Prevenção da Doença (CDC, na sigla em inglês) constataram que cerca de 55% das recentes infecções por covid-19 no país foram provocadas pela nova linhagem da ômicron.
Apesar disso, no momento, as taxas de casos, internações e óbitos seguem em queda nos EUA, que, assim como o Brasil, também avaliam a hipótese de reclassificação da pandemia para endemia. Até domingo, por exemplo, os dados mais recentes do site Our World in Data mostravam que a média móvel de infecções no país, nos últimos sete dias, era de 27.088 contra 357.982 (em 3 de fevereiro). A de mortes, de 645 (contra 2.622 dois meses atrás).
Como o Brasil não faz testagem em massa, fica difícil saber o atual estágio da BA.2 por estas bandas. Nem sempre, o repique tem a mesma intensidade registrada na Europa e nos Estados Unidos, como ocorreu com a Delta. O que se sabe é que, nas últimas semanas, não há sinais de alteração na trajetória de queda dos principais indicadores de gravidade da pandemia no país. O número de casos, mortes e internações graves vêm caindo, em média, a cada semana epidemiológica.
Mesmo assim, como inexiste um monitoramento robusto capaz de detectar rapidamente variações e tendências da covid-19 no Brasil, especialistas veem como precipitada uma mudança, neste momento, no status da pandemia. Em vez disso, sugerem que o país amplie a vacinação de crianças e a aplicação da segunda dose de reforço em adultos. E, ainda, que prefeitos e governadores ajam com prudência ao adotar medidas como a flexibilização do uso de máscara em ambientes fechados e em transporte coletivo. É hora de agir com cautela, dizem, para evitar retrocessos no combate ao coronavírus.
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