O título deste artigo tem sido repetido várias vezes pelo presidente Volodymyr Zelensky e pelos cidadãos ucranianos. A cada bomba que despenca do céu, a cada criança desenterrada sem vida dos escombros, a cada lágrima derramada no abandono do lar, a cada traço de horror a roubar sorrisos e sonhos de cada rosto. Slava Ukraini ("Glória à Ucrânia") tornou-se um mantra de resistência e de força. As mesmas palavras entoadas durante a revolução de 2013-2014, quando jovens, mulheres e idosos enfrentaram, com coragem, os policiais da temida Berkut, uma força especial que trucidou manifestantes reunidos na Praça Maidan, no coração de Kiev. A mesma astúcia mostrada por ucranianos — civis e militares — ao confrontarem as tropas da Rússia com coquetéis Molotov e com patriotismo.
Um provérbio ucraniano define bem o inferno testemunhado pelo mundo em pleno século 21: "A guerra come as pessoas, e as lava com sangue". Sim, a guerra devora a alma humana, assassina e faz assassinos, estupra, saqueia, violenta a dignidade, reduz o homem a besta. Enquanto seus olhos deslizam por esse texto, mísseis cruzam os céus da Ucrânia e sentenciam pessoas comuns ao medo e à morte. A guerra do presidente russo, Vladimir Putin, é absurda, assim como todas são. Tornou-se uma guerra indiscriminada, em que soldados russos ignoram as leis do front e sentenciam os civis ucranianos a uma provação quase dantesca. Quase 4 milhões de refugiados fugiram da Ucrânia, 10 milhões foram forçados a se deslocar para outras cidades dentro do país. Mais de 30 milhões estão entregues à própria sorte.
Putin, o senhor (ou czar?) da guerra parece pouco satisfeito com a autocracia erigida dentro dos limites da "mãe Rússia". O filho rebelde, tomado pela sanha do poder, quer mais. Tem as mãos sujas de sangue inocente. Sobre seu colo recai a responsabilidade pelas mortes de pelo menos 7 mil soldados russos, forçados a uma guerra insensata. Relatos apontam que muitos militares jamais serão entregues aos familiares para sepultamento digno. Vários deles acabaram incinerados em território ucraniano ou abandonados para os cães e abutres. Assim como mais de 2,5 mil moradores de Mariupol foram lançados em valas comuns como se nada valessem.
O mundo condena, critica, resmunga, mas nada faz. De mãos atadas, é incapaz de intervir diretamente na aventura sádica de Putin. Qualquer sinal mais incisivo de ação militar pode empurrar a Europa para uma Terceira Guerra Mundial, cujas consequências seriam imprevisíveis. Causam revolta as notícias sobre escolas e maternidades pulverizadas pelas bombas de Moscou. Provoca dor a imagem do bebê inerte, sobre a maca do hospital, enquanto os médicos se debruçam sobre o pequenino e, em vão, tentam trazê-lo de volta à vida. Dói o silêncio complacente de pseudoestadistas que se acovardam em não assumir uma postura em favor da paz. Slava Ukraini. Heroiam Slava (Glória à Ucrânia. Glória aos heróis). E que o país se reerga das cinzas e cale toda forma de ressentimento e rancor. Que encontre a paz.