Editorial

Visão do Correio: A classificação da crise sanitária

Quando ficou claro que o pico das infecções pela variante ômicron no país já havia passado no Brasil e, em consequência disso, o número de infecções e de mortes causadas pelo coronavírus no país começou a cair, o governo informou que estudava mudar o status da pandemia de covid-19 para endemia, classificação semelhante à da gripe influenza. O anúncio foi feito pouco antes do carnaval. E a intenção era adotar a medida ainda em março, caso o feriadão de Momo não desencadeasse nova explosão de casos e de óbitos.

À época, esse movimento já havia sido iniciado por alguns países europeus. Lá, a reclassificação ganhou força logo no início de fevereiro, quando o diretor regional da Organização Mundial da Saúde, Hans Kluge, avaliou que o continente já tinha deixado para trás o ápice da onda de contágios desencadeada pela ômicron. E disse que a Europa estava prestes a viver uma "paz duradoura" em relação à crise epidemiológica.

Um dos primeiros países a mudar o status para endemia foi a Espanha, à época com 82% da população totalmente imunizada e 36% com dose de reforço. No Reino Unido, outro pioneiro no fim das restrições ao coronavírus, 70% dos habitantes tinham concluído o ciclo vacinal e 53% haviam tomado a dose de reforço. Em seguida vieram a Dinamarca, com taxa de 81% com vacinação completa e 62% com reforço. E a França, com 77% totalmente vacinados e 53% com a dose extra.

No Brasil, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, busca uma espécie de consenso para alterar a classificação da pandemia para endemia. No país, pelos dados disponíveis até a quinta-feira, 79,39% da população com 5 anos ou mais — que é o alvo da campanha nacional de imunização — está totalmente vacinada. E a dose de reforço foi aplicada em 44,67% dos adultos. Quando se leva em conta todos os habitantes, a taxa daqueles que concluíram o ciclo vacinal é de 73,96%; e 33,64% receberam reforço.

Nos últimos dias, Queiroga esteve com os chefes do Legislativo e do Judiciário para tratar da questão. Primeiro, conversou com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PL-AL). Depois, com o do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). E, por fim, encontrou-se com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux.

A iniciativa do ministro deixa claro uma mudança na postura do Executivo. Em vez do confronto, o governo busca o entendimento para evitar possíveis desgastes no Congresso e reveses na Justiça caso o novo conceito sobre a pandemia seja adotado. É bom que o ministro haja com cautela. Ainda mais porque se trata de uma questão controversa.

Na última quarta-feira, o escritório da OMS para as Américas alertou sobre um aumento de casos de covid-19 em várias partes do mundo. Além disso, no Brasil, muitos especialistas consideram precipitada uma eventual mudança no status da crise epidemiológica neste momento. Defendem que o governo intensifique a vacinação de crianças e a aplicação do reforço e aguarde mais algumas semanas para tomar a medida com segurança.

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