Artigo

Cida Barbosa: Um perigo à espreita

O Brasil está abrindo a porta para que uma doença devastadora volte a vitimar crianças por aqui. A poliomielite é cruel. Além do potencial para deixar meninas e meninos paralíticos, pode causar a morte, pois, em sua forma ainda mais grave, paralisa os músculos da respiração. É um mal que não tem cura, mas há como preveni-lo: com vacinação.

E o Brasil era um exemplo mundial de imunização. Era. O país que recebeu, em 1994, o certificado de eliminação da pólio, hoje está entre os seis das Américas com alto risco de reintrodução da doença. O motivo? A baixa cobertura vacinal. É estarrecedor como deixamos o posto de uma das referências globais de imunização.

A taxa de vacinação está ladeira abaixo por aqui desde 2013. Em 2012, a cobertura foi de 96,55%, ou seja, acima dos 95% estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde para proteger contra a doença. De lá para cá, porém, a queda tem sido vertiginosa. Em 2021, ficou em 67,71% — considerando as três primeiras doses da vacina, que devem ser aplicadas no primeiro ano de vida da criança.

Um dos motivos para termos baixado a guarda é a percepção de parte da população de que a paralisia infantil virou coisa do passado. Grave erro. O vírus causador da enfermidade segue em circulação no mundo. Em fevereiro, um caso de pólio foi registrado no Malaui — uma criança de 5 anos. Em Israel, foi detectado no início deste mês, em um paciente de quatro anos.

Também joga a favor da doença a atuação de criminosos que espalham notícias falsas sobre vacinas. Esses sabotadores acabam incutindo dúvidas em pais ou responsáveis a respeito da segurança e da eficácia dos imunizantes. E cadê o governo para combatê-los?

Por falar em gestão pública, temos outro fator a explicar a baixa adesão às vacinas. Não existem mais campanhas massivas, daquelas que ficavam martelando sobre a necessidade de aplicar as doses nas crianças. O Brasil era um país em que, quando havia campanha nacional de imunização, todos ficavam sabendo.

Os novos casos de pólio pelo mundo alertam para a urgência do enfrentamento à baixa cobertura vacinal. Não podemos permitir tamanha ameaça às crianças. A imunização é a arma para protegê-las. Uma prevenção simples e de fácil alcance.