Dois anos depois de a pandemia de coronavírus chegar oficialmente ao país, o Brasil está diante de outro dilema: ainda é ou não cedo para a flexibilização do uso da máscara em espaços fechados? A medida, que começou a ser adotada pela cidade do Rio de Janeiro, começa a se expandir pelo país. Já é norma, também, no Distrito Federal, em Mato Grosso do Sul, Amazonas e Santa Catarina. E está sendo estudada pelo governo do estado de São Paulo, que pode ser o próximo a suspender por completo a exigência da proteção facial. Muitos especialistas, no entanto, veem certa precipitação nesse movimento.
No Boletim do Observatório Covid-19, divulgado na sexta-feira, cientistas da Fiocruz avaliam que o cenário atual da terceira onda epidemiológica no país, com o predomínio da variante ômicron, está em fase de descenso, com redução dos casos graves de internações e óbitos. Mas ressalvam que, no período estudado, que engloba as semanas de 20 de fevereiro a 5 de março, ainda não é possível mensurar o efeito das festas e viagens ocorridas no período de carnaval. Isso porque, devido à própria dinâmica do vírus, a confirmação de novas infecções, taxa de transmissão e óbitos é feita com defasagem de alguns dias.
Por essa razão, explicam os pesquisadores da fundação, ainda não se conhece o real impacto do último feriadão na tendência das curvas dos indicadores de gravidade da crise epidemiológica. Daí por que consideram prematuro o relaxamento dos protocolos sanitários adotados por prefeitos e governadores. "Flexibilizar medidas como o distanciamento físico ou o abandono do uso de máscaras de forma irrestrita colabora para um possível aumento de casos, internações e óbitos, e não nos protege de uma nova onda", sustentam.
Além de aguardar algumas semanas, para ter visão mais clara dos rumos da covid-19 no país, os cientistas da Fiocruz afirmam que o melhor a fazer no momento é intensificar a vacinação de crianças e a aplicação da terceira dose em adultos. No boletim, observam, países com alto índice de pessoas que receberam a injeção de reforço apresentam redução substancial na taxa de hospitalização, mesmo registrando elevado número de casos.
Até a última sexta-feira, dados independentes obtidos por veículos de comunicação diretamente com secretarias de saúde mostravam que 99,7% dos brasileiros com 12 anos ou mais haviam tomado pelo menos uma dose de vacina contra a covid-19. Desse público, 87% tinham sido imunizados com duas doses. Quanto à população, de forma geral, o total de imunizados com o ciclo vacinal completo chegava a 73,2%. E 33% haviam tomado a terceira dose.
No estudo epidemiológico, cientistas da Fiocruz destacam que metade dos óbitos atuais no Brasil ocorre entre pessoas com 78 anos ou mais, com maior vulnerabilidade às formas graves e fatais da covid-19. Diante dessa realidade, eles defendem a aplicação de uma quarta dose para esse grupo, seis meses após a injeção de reforço. E apontam uma relação entre esse fenômeno e a alta de infecções na parcela mais jovem da população. "A maior vulnerabilidade das crianças, provocada principalmente pela baixa adesão desse grupo à vacinação, compromete igualmente o grupo que se encontra no extremo oposto da pirâmide etária", alertam. A preocupação com os estudantes mais jovens, aliás, levou muitas escolas a manter a exigência da máscara país afora. Uma decisão sensata.