Temos aqui ataques contra a população desde 1500. No nosso caso, não é outro país autor do ataque, mas o próprio Estado brasileiros, por meio dos Três Poderes da República. Esses atores, de forma indisfarçada, vêm empreendendo o que seria uma guerra de dominação, invadindo a vida dos cidadãos e dela se apossando para seu proveito. Para tanto, lançam de sua artilharia pesada uma saraivada de bombas contra os que estão na planície, na forma de edição de medidas e interpretações de leis, que impõem a taxação crescente de impostos e tributos, de toda a ordem, que caem como chuva de obuses arrasando as possibilidades da população manter um padrão econômico mínimo e decente.
Os mísseis de carga tributária escorchante parecem dotados de uma espécie de sensor que os guia diretamente sobre as classes sociais que se amontoam no sopé da pirâmide. Em última análise, esses Poderes, por suas prerrogativas que vão muito além da razoabilidade, acabam por sufocar os civis, numa luta desigual, em que as leis escritas são capazes de pacificar.
Com isso, garantem a perpetuação do status quo, com a manutenção e o aumento dos privilégios, com proteções e regalias apenas àqueles que estão controle do país. Aumentam os gastos públicos, não em investimento diretos para a nação, mas para dotar esses nichos de poder, instâncias semelhantes a paraísos, em que nenhuma crise é capaz de atingir. Se aumentam os preços dos combustíveis, em lógicas matemáticas diversas, os efeitos negativos nos alcançam, uma vez que por seus penduricalhos de proventos estão cobertos por defesas tipo vale-combustível e outras armas.
Para essa elite, entrincheirada em bunkers de luxo aqui na capital e em outros estados, cabe à população arcar com as consequências das crises cíclicas que ele, diligentemente, fabricam. Trata-se de uma situação que, figurativamente, é também uma guerra, mas que vem perdurando por séculos e está a se agravar, à medida que aumentam os gastos do governo e de cada Poder em particular.
É de fato uma invasão não declarada, em que os áulicos têm todas as mais sofisticadas armas. À população, sob ataque permanente, resta se defender como pode. Para isso, vê-se obrigada a recorrer às armas que a criação possibilita, mantendo-se numa informalidade, em que tem que usar verdadeiras táticas de guerrilha, driblando imposições, fazendo gatos aqui e acolá, buscando meios de não ser lançada no abismo das regulações burocráticas e evitar ser sugada por impostos e taxas sem fim.
Tem-se, aqui, uma guerra na qual as armas desiguais acabam sempre por ferir os calcanhares daqueles que andam descalços. A sorte dos brasileiros — se é que se pode chamar isso de sorte — é que os próprios Poderes não se entendem entre si, o que torna a ação conjunta e coordenada do Estado contra a população algo ainda distante e até impensável no momento.