A manifestação de artistas e ativistas na Esplanada dos Ministérios, na quarta-feira, é um sopro de esperança. Ver que nomes importantes da cultura brasileira, como Caetano Veloso, Daniela Mercury, Letícia Sabatella, Lázaro Ramos, Maria Gadú, entre outros, resolveram não se calar diante dos projetos em tramitação no Congresso que impactam o meio ambiente e o dia a dia dos povos indígenas traz a perspectiva de que não haverá nenhum rolo compressor para aprovar as propostas a toque de caixa por deputados e senadores, além de recolocar o tema no centro das discussões da sociedade civil.
Entre as medidas criticadas por cantores, atores e representantes de ONGs e movimentos sociais, estão a facilidade na liberação de agrotóxicos, a regularização de terras griladas e a mineração em reservas indígenas. São temas importantes. Até porque presenciamos durante os três primeiros anos do governo Bolsonaro o desmonte da política ambiental, com restrição ao trabalho dos órgãos de proteção, flexibilização e tentativa de desregulamentação de leis e ameaça constante aos direitos dos povos nativos, conforme denunciam servidores e ativistas.
Perceber que a classe artística resolveu reagir aos ataques ao meio ambiente faz muito bem para a democracia. Você tem todo o direito de não concordar com as críticas ou até mesmo considerar o ato de quarta-feira um oportunismo eleitoral — afinal, estamos em ano de disputa pelo Palácio do Planalto e qualquer movimento pode ser visto como tentativa de enfraquecer o governo —, mas a mobilização de artistas é sempre salutar para a sociedade. É a confirmação da importância da liberdade de expressão.
Afinal, em todos os momentos históricos de defesa da democracia brasileira, os artistas estiveram presentes, seja na luta contra a ditadura militar, seja na defesa do direito de o povo escolher de forma direta o presidente da República. Nos últimos tempos, diante da polarização e radicalismo político existente no país, muitos resolveram se calar, seja para evitar prejuízo financeiro, seja para não se indispor com o público — xingamentos e ameaças em redes sociais são bem comuns.
Então, nada melhor do que ver a classe artística na Esplanada. Atores e cantores têm interlocução direta com a sociedade. O posicionamento deles é importante para ampliar o debate e mostrar aos políticos que a voz das ruas precisa ser ouvida. Muitas vezes, concordo que pode parecer utopia. Mas é uma das formas que temos para protestar.