Fome no semáforo
A cada semáforo, no centro de Brasília, homens fazem, por meio cartazes de papelão, um apelo para a compra de alimentos para a família. A doação deve ser feita por meio de PIX. Esquecemos que a bancarização foi expandida, como meio de transferência dos auxílios emergenciais, decorrentes da pandemia. Com ela, veio também o PIX, a novidade que facilitou o recebimento e pagamentos, livrando os brasileiros das extorsivas taxas cobradas pelos bancos nas transferências de dinheiro entre contas. Mas, diante dos pedidos de auxílio, vem a dúvida: será que o dinheiro é mesmo para a compra de alimento? Será que esse homem tem uma família que está passando por necessidade? Muitas dúvidas passam pela cabeça. Somos vítimas de tantos golpes, inclusive dos praticados pelo poder público. Provavelmente, entre os diferentes homens encontrados nos semáforos, haverá aqueles que, realmente, estão necessitados de ajuda financeira. Mas como diferenciá-los dos golpistas, se quase nada é confiável neste país, onde somos vítimas da absoluta ausência de escrúpulos dos dirigentes e parlamentares, que se dizem representantes do povo? Não fosse a corrupção desmedida, o Brasil não teria pedintes nos semáforos nem 19 milhões de famintos.
Leonora Lima,
Núcleo Bandeirante
Conselheiro
Hoje, o conselheiro mais influente do presidente Jair Bolsonaro é o general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o porta-voz informal da ala já tida como a mais ponderada do governo e que, embora repudie a caracterização de "grupo dos militares", é toda composta de altas patentes oriundas das Forças Armadas com atuação bem-vista em setores sociais e oficiais, mas muito criticada nos chamados bolsões radicais do governismo. Na linha de frente, também se destaca, ou melhor, destacava-se o vice-presidente Hamilton Mourão, com suas declarações públicas de caráter apaziguador em relação a crises e atritos provocados ora por integrante daquela outra ala que numa definição amena poderíamos chamar de polêmica, para não dizer folclórica. No entanto, ultimamente, Mourão tem tido várias e sérias posições díspares com as do presidente Bolsonaro, ao pensar, julgar e agir diferenciado do chefe da nação. A outra parte, numa tradução simples, o general Heleno atua "para dentro" e o general Mourão, "para fora". Se um aconselha, o outro funciona como uma espécie de corretor de texto. Portanto, nessa tarefa é que estão empenhados os setores que chamamos aqui de oficina de consertos.
Renato Mendes Prestes,
Águas Claras
Máscaras
Acostumei-me com a máscara no rosto. Não incomoda, protege. Não saio sem ela. Significa prudência e amor à vida. Prefiro não arriscar. Ainda é cedo. Só dispenso a máscara em casa. E olhe lá. Peço as visitas que mantenham a máscara. Os riscos permanecem entre a população. Excelente que as mortes diminuíram. Há dois anos, sofremos e penamos. Não é hora de abrir a guarda, de subestimar, o perigoso vírus. Conheço dezenas de pessoas que contraíram a covid-19, por mais de uma vez. Embora vacinadas, inclusive com a dose de reforço. Hoje, sofrem com fortes sequelas. Não tem como identificar se todos que cruzam meu caminho, fogosos e altaneiros, sem a máscara, estão vacinados. No Rio de Janeiro, ampliaram a dispensa do uso da máscara também para locais fechados. Valha-me, Deus. Colossal temeridade.
Vicente Limongi Netto,
Lago Norte
Violência doméstica
O Correio e sua equipe da editoria de Cidades merecem ser aplaudidos de pé pela série Novo Começo. Na segunda-feira, li a reportagem "Agressores confrontados com a própria violência", e tive uma noção mais exata da epidemia de violência que afeta os lares da cidade e, sem dúvida, se reproduz em todos os estados. Mas o que mais me prendeu à leitura foram os casos de homens que, sob tratamento oferecido pelo Tribunal de Justiça do DF, reconhecem o que fizeram contra suas ex-companheiras. Admitem que o machismo é uma enfermidade grave, cuja sequela é a infelicidade. Esta série deveria ser reprisada várias vezes.
Teresa Barbosa
Octogonal