Guerra no leste europeu

Visto, lido e ouvido: A morte do bom senso

No segundo dia da guerra entre Rússia e Ucrânia, esse espaço alertava para a urgência de providências no sentido de conter a poderosa máquina bélica de Putin, primeiro por meio de uma possível declaração do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, estabelecendo a neutralidade de seu país nas questões entre Moscou e a OTAN a exemplo da Finlândia durante a Guerra Fria.

Por uma razão simples e imposta pelo pragmatismo político: a impossibilidade real da Ucrânia em conter possível avanço da máquina de guerra russa. Segundo, para preservar a vida de cidadãos ucranianos, homens, mulheres, crianças e idosos, que seriam alvo dos ataques russos. Conhecendo a belicosidade de Putin, essa seria a melhor estratégia de um governante sensato, pois desmancharia os argumentos do ditador para invadir o país vizinho.

Não se trata de pretensão de posar de estrategista de guerra ou coisa parecida. A questão envolve o bom senso, um atributo que, em tempos de violência, desaparece como fumaça no vento. Agora, com o estabelecimento da guerra ou, mais precisamente, de um massacre sobre o povo ucraniano, principalmente da sua parcela civil, parece tarde para recuar.

Para complicar um problema que tende a crescer, o presidente ucraniano parece fazer o jogo que o Kremlin deseja: estender o conflito para toda a borda que margeia a Rússia, incluindo na batalha todos os países que faziam parte da antiga União Soviética. Ao apelar para que países como os Estados Unidos e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) entrem nesse conflito, o que o presidente ucraniano está fazendo é acender o pavio para uma guerra generalizada em todo o continente europeu, o que seria um prenúncio tenebroso para uma terceira e definitiva guerra mundial.

É certo também que Putin e seus generais poderiam resolver a questão do cerco da Otan ao território russo estabelecendo um cordão de proteção armada ao longo apenas das fronteiras dos países limítrofes. Mas todas essas foram hipóteses lançadas na lata de lixo. De fato, ao açular os instintos bélicos de Putin, em nome de um patriotismo que sempre custa a vida da população local, Zelensky abriu as portas para o avanço dos russos sobre seu país.

O mundo, que a tudo assistia e que também não acreditava numa guerra de fato, foi apanhado por um tipo de surpresa anunciada. O fato é que a Europa, que enfrentou décadas de guerras sangrentas, teme a volta dos conflitos armados, que podem se espalhar para outros becos sem saída preexistentes em seus territórios, como é o caso da questão das levas de imigrantes vindos da África e do Oriente, além da questão dos muçulmanos versus cristãos, ainda não resolvidas desde as Cruzadas.

Mesmo as delicadas questões envolvendo os países Balcãs poderiam, em caso de uma guerra generalizada, voltar a incendiar todo o continente. Existe, de fato, um tênue equilíbrio político em toda a Europa que pode ruir, caso haja uma escalada dos conflitos. Não foi apagado, no tempo devido, o pavio de pólvora nos dias que antecederam a invasão russa. Agora, pelo desenrolar dos acontecimentos, a guerra parece que seguirá seu curso natural, inflamando o continente e trazendo mais insegurança para todos os europeus, isso se as contendas ficarem restritas apenas à Europa. Caso outros protagonistas, como os Estados Unidos e a China, entrem nesse conflito, os rumos do planeta imbicarão para um abismo sem fundo.

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