» Sr. Redator

Desequilíbrio

"Nenhum incêndio começa grande", costuma alertar o Corpo de Bombeiros. É sempre uma pequena fagulha ou faísca que dá início a tudo. No terreno da guerra é a mesma coisa. Queima a nossa decência o desinteresse das partes pelo diálogo. Mina o lugar da boa conversa e aquece o mercado da ira a explosividade do temperamento autoritário. Não à toa, buscando equilíbrio de forças e vontades, a ética se apreende muito pela forma exemplar. Tempos de guerra se mostram sempre indecorosos. Procuram calar a comunicação de consciências, fazendo uso do "Congresso Internacional do Medo", conforme salientou o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), em Sentimento do Mundo (1940). Diante do bélico, o desassossego é imediato. Com resistência pacífica, dentro de nós não podem morrer a esperança, a solidariedade, a fraternidade e a decência. Em Vila do Sossego (1978), Zé Ramalho questiona o apodrecimento da nossa dignidade individual e coletiva, uma vez que não podemos atentar contra o sucesso da vida apontado para dias melhores: "Oh, eu não sei se eram os antigos que diziam/Em seus papiros Papillon já me dizia/Que nas torturas toda carne se trai/E normalmente, comumente, fatalmente, felizmente/Displicentemente o nervo se contrai/Ô, ô, ô, ô, com precisão!/Nos aviões que vomitavam paraquedas/Nas casamatas, casas vivas caso morras/E nos delírios, meus grilos temer/O casamento, o rompimento, o sacramento, o documento/Como um passatempo quero mais te ver/Ô, ô, ô, ô, com aflição!/Meu treponema não é pálido nem viscoso/Os meus gametas se agrupam no meu som/E as querubinas meninas rever/Um compromisso submisso, rebuliço no cortiço/Chame o padre Ciço para me benzer/Ô, ô, ô, ô, com devoção!".

Marcos Fabrício Lopes da Silva,

Asa Norte

O destino do mundo

O destino do mundo nas mãos de três pessoas? (6/3, pág. 5): "Essa tese está sendo posta à prova na guerra da Ucrânia, a nova marcha da insensatez. Um único homem poderia evitá-la: Putin, se não houvesse invadido o país vizinho; o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se tivesse contido a expansão da Otan; e o presidente Volodymyr Zelenski, que poderia ter negociado para a Ucrânia entrar na União Europeia e ficar fora da Otan. A pergunta é: como acabar com a guerra?". E nós, pobres coitados, de que lado ficamos?

Lauro A. C. Pinheiro,

Asa Sul

Desafios

A deflagração do conflito entre Rússia e Ucrânia representa um marco simbólico para a recente crise das democracias liberais. A debilidade desses regimes se fez evidente pela ascensão de líderes populistas autoritários, tais como Donald Trump (EUA), Erdogan (Turquia), Orban (Hungria) e Jair Bolsonaro (Brasil); por movimentos religiosos extremistas (vide Estado Islâmico); e pelo ressurgimento de agrupamentos supremacistas (vide neonazismo). Aos meus 23 anos, tornam-se nítidos dois daqueles que serão os maiores desafios de minha geração: a escalada política, econômica e militar de nações regidas por governos tirânicos, e o desafio de harmonização entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental. As soluções de ambos problemas demandarão liderança política nacional e atuação multilateral na política externa. No entanto, nosso país caminha para o isolamento geopolítico e para uma eleição presidencial polarizada entre um capitão reformado ilhado em seus devaneios negacionistas e um ex-presidente cuja concepção de mundo remete à ordem anterior à queda do muro de Berlim — ambos devendo boas explicações à Justiça. O futuro à vista não nos é nada animador.

Elias Menezes,

Belo Horizonte (MG

Desprezível

Suponho que, como eu, uma parte dos homens deve sentir vergonha diante das gravações horrendas e chulas do deputado estadual Arthur Duval (Podemos). Ele é o retrato falante da má educação, do machismo, do desrespeito e da coisificação das mulheres. Um ser, em síntese, desprezível que, como um ex-parlamentar, que deu mostras semelhantes, ao dizer para uma colega que ela era tão feia que não merecia ser estuprada, dando a entender de que se fosse bonita, poderia ser abusada sexualmente. Em plena guerra, e ainda que não fosse, o deputadozinho não manifesta nenhuma solidariedade ao povo ucraniano, mas manifesta o seu pendor ao abuso sexual de mulheres. Suspeito que ele, por pertencer ao Podemos, entendeu que pode tudo e um pouco mais. O comportamento dele é mais um alerta, entre tantos que tivemos nos últimos três anos, de que devemos pensar e repensar em quem votar, para não repetirmos a esparrela de 2018, que levou o país ao fundo do poço, a retrocessos inimagináveis, com as perdas de duras conquistas alcançadas no passado. O nosso desprezo pela política acaba nos levando a escolhas equivocadas, que só causam prejuízo à sociedade. É por causa desse desdém e nojo da classe política que existem o maldito Centrão e tantos parlamentares corruptos infectando o parlamento. Precisamos ficar atentos à cena política, principalmente as mulheres, para não repetirmos a burrada que cometemos em 2018.

Alfredo Soares,

Asa Norte