Depois de aprovar, a toque de caixa e sob forte pressão, o projeto de lei 6.299/02, também chamado "PL do Veneno" em fevereiro último, revogando e afrouxando a lei sobre o uso de agrotóxicos, centralizando no Ministério da Agricultura o registro e a fiscalização fake desses produtos, mudando inclusive a denominação de agrotóxicos para pesticidas, a Câmara se prepara, agora, para liberar a autorização para mineração, garimpo, pecuária e turismo em terras indígenas, como o PL 191/2020, abrindo a porteira dessas terras ao desenvolvimento, com as bênçãos da poderosa bancada do agronegócio.
O que se tem aqui com esses dois famigerados projetos de lei, criticados por ambientalistas renomados, dentro e fora do Brasil, e seguramente prejudiciais aos biomas naturais do país, muitos deles dentro de áreas de preservação, pode ser definido como um pesadelo a comprometer o futuro das novas gerações, promovendo de forma explícita o que pode vir a ser um genocídio dos povos indígenas.
O problema aqui, no atual governo, não é saber onde estão reservas e riquezas minerais, mas se, nessas áreas, há ou não povos indígenas. A questão não é apenas a prospecção de jazidas economicamente interessantes para o governo e para as elites que manobram nas sombras essas propostas, mas saber se, nessas áreas, existem povos que lá estão por séculos.
Mais do que as riquezas que ali se encontram, interessa desalojar esses povos, expropriá-los de suas terras, dizimando sua cultura e meio. Há nesses projetos um nítido interesse escuso, como se as causas e as culpas pelo atraso e subdesenvolvimento do país coubessem a esses povos e não à classe política e parasitária que, desde 1500, dilapidam, sem remorsos, as riquezas nacionais.
O que se quer é envenenar a terra e os rios, em nome de um agrobusiness que não planta alimentos, mas somente lucros para seus proprietários. O que está em vista é mandar avançar os tratores com suas correntes sobre matas nativas, arrasando com os biomas vegetal e animal, implantando em seu lugar a monocultura transgênica e envenenada com "pesticidas", em grandes e áridos latifúndios depois transformados em desertos arenosos.
O que se pretende, de fato, com essas propostas indecentes, é banir a variedade de vida e de cultura, substituindo-a por negócios cujos resultados não interessam ao homem do campo, tampouco aos povos indígenas autênticos, que vêm nessa chegada do homem branco, tendo à frente um novo lunático, o início do fim, assim como seus ancestrais que entraram em contato com os primeiros navegadores chegados da Europa.
Desde esses primeiros contatos, a terra inteira, com seu valor infinito, foi sendo trocada por espelhos e outras bugigangas sem valor. O que se tem nesses movimentos que vão contra a corrente do bom senso e da vida é a imposição do atraso e da lógica dinheirosa, que tudo transforma em lixo.