OPINIÃO

Ana Dubeux: 'Falta uma longa jornada'

"Este ano tem eleição. Vamos ficar de olho, sobretudo nos parlamentos. Mais mulheres na política podem transformar a vida de nossas filhas e netas"

Eu creio nas bruxas, nas santas, nas loucas, nas pobres, nas ricas, nas tímidas, nas exageradas, nas feministas. Creio no potencial, na bagagem, na criatividade e no talento das mulheres. Acredito fortemente que elas são capazes de absolutamente tudo a que se propõem. Mas só a minha crença é pouco. Aliás, a sua também não ajudará muito. Nem a de um milhão de meninas, jovens, velhas, sábias, líderes.

Neste 8 de março, próxima terça, Dia Internacional da Mulher, precisávamos ganhar um botão de ação, uma voz de comando imediato, que mandasse pelos ares toda sorte de preconceito de gênero e discriminação. Infelizmente, não há mágica, nem milagres. Há caminhos, e eles estão, sim, sendo trilhados, mas falta uma longa jornada.

Fiquei pensando aqui como pode ser tão fácil e imediato um sujeito declarar guerra e outros tantos saírem por aí obedecendo, matando pessoas e destruindo cidades. E como é tão difícil conseguir garantias de equidade de gêneros, mesmo nas coisas mais simples.

Não faltam estatísticas para servir de argumentos nos relatórios. Penso que grandes líderes globais enxerguem números como firulas, porque não há cabimento tanta discrepância e um período tão longevo de desigualdades em série.

Mulheres ganham menos, trabalham mais, cuidam de todos, morrem nas mãos dos maridos, ex-maridos, companheiros; são estupradas por tios e padrastos; sofrem abuso e assédio moral no ambiente corporativo; são mutiladas para servir aos costumes; são abandonadas grávidas e cheias de filhos; obrigadas a abortar sem assistência.

Estamos no século 21. Já evoluímos, é claro. Podemos nos divorciar, votar e evitar filhos, coisas que há muito pouco tempo conquistamos, apesar de parecer tão distante no tempo. Conseguimos aprovar algumas leis importantes, como a Lei Maria da Penha. Ainda assim, precisamos de mais.

Folgo em ouvir as vozes feministas ecoando graças ao espaço virtual. Todo dia aprendo com intelectuais, ativistas, jovens e velhas. Aprendo também com as memórias afetivas de mulheres do meu passado, que, do seu jeito, lutavam pela autonomia, ao menos a das filhas.

Este ano tem eleição. Vamos ficar de olho, sobretudo nos parlamentos. Mais mulheres na política podem transformar a vida de nossas filhas e netas. Talvez seja esse nosso botão de ação.

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