O mundo trava uma batalha contra outra pandemia, além da covid-19: a obesidade. A Organização Mundial da Saúde considera que esse é um dos mais graves problemas de saúde a ser enfrentado nos próximos anos. Estima-se que 2,3 bilhões de adultos estarão acima do peso em 2025, sendo 700 milhões com obesidade, que é quando a pessoa tem um índice de massa corporal (IMC) acima de 30. Hoje, no Dia Mundial da Obesidade, a data chama a atenção para a conscientização da doença e os fatores de risco.
No Brasil, segundo Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), a obesidade aumentou 72% nos últimos 13 anos. A condição afeta homens e mulheres e acende o sinal de alerta principalmente entre crianças e jovens adultos, que apresentam excesso de peso. O Ministério da Saúde e a Organização Pan-americana da Saúde (Opas) apontam que 12,9% das crianças brasileiras entre 5 e 9 anos de idade estão obesas, e 7% dos adolescentes na faixa etária de 12 a 17 anos também apresentam IMC acima de 30.
Se nada for feito para mudar essa situação, a previsão é de que até 2030 o excesso de peso possa afetar 68% dos brasileiros, ou seja, sete em cada 10 pessoas, e a obesidade, 26% da população, o que significa uma a cada quatro pessoas. Esses dados fazem parte do estudo "A Epidemia de Obesidade e as DCNT — Causas, custos e sobrecarga no SUS", realizado por equipe formada por 17 pesquisadores de diversas universidades do Brasil e uma do Chile.
O impacto na saúde e na qualidade de vida do indivíduo com excesso de peso é preocupante. Isso porque os dados indicam o risco associado de diversas Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT) à obesidade, a exemplo das doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes e cânceres entre outras. A obesidade é uma patologia multifatorial, que sofre influência do estilo de vida e de fatores genéticos.
Para além do perigo que representa para a saúde e capacidade funcional do obeso, o impacto é elevado no Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2019, o país gastou só com as DCNTs R$ 6,8 bilhões. Os pesquisadores do estudo estimam que 22% desse total podem ser atribuídos ao excesso de peso e à obesidade. O levantamento aponta, ainda, 128,71 mil mortes, 495,99 mil hospitalizações e 31,72 milhões procedimentos ambulatoriais realizados pelo SUS, relacionados ao excesso de peso e obesidade.
Diante desse contexto, fica claro que a obesidade deve ser tratada como problema público de saúde. É preciso criar estratégias que possam acolher de forma multidisciplinar o paciente para entender as causas e atuar no controle. Além do estímulo à mudança de hábitos, inserindo a prática da atividade física no dia a dia e uma alimentação melhor, é importante atacar o consumo de produtos ultraprocessados, que vem crescendo no país. Na pandemia de covid-19, com o isolamento social, as pessoas passaram a não se exercitar e a abusar de alimentos não saudáveis, contribuindo para o aumento da gordura corporal.
O Guia Alimentar para a População Brasileira, documento do Ministério da Saúde com a colaboração técnica do Nupens USP, sinaliza nesse sentido, ao promover a implantação da diretriz de promoção da alimentação adequada e saudável que integra a Política Nacional de Alimentação e Nutrição. Trata-se de um instrumento para apoiar e incentivar práticas alimentares saudáveis no âmbito individual e coletivo.