Não fale em nome da nação

Certos comportamentos de autoridades repercutem negativamente em momentos de tragédias. Não cabem exibições em jet ski enquanto acontece uma guerra. Depois da experiência com a covid-19, ao mirar no presidente da República, o que a população espera é que a liturgia do cargo se reflita na conduta.

Com essa postura pouco exemplar para os cidadãos, o chefe do Executivo vai consolidando a fama de indivíduo insensível e indiferente aos dramas humanos, sejam eles de outros países, sejam os de seus conterrâneos. Talvez, imagina que, agindo dessa forma, demonstra valentia e coragem. Nada mais falso e próximo da covardia do que ignorar seus semelhantes. A imagem que passa é a de insensibilidade e de pouco caso que faz aos dramas alheios. Claro que o peso da imprensa deve ser considerado, mas não por outro motivo o presidente do Brasil achou por bem não se manifestar com relação à guerra que vai destruindo, pelas beiradas, a Ucrânia.

Na visita que fez a Moscou, às vésperas de Putin mandar varrer do mapa a vizinha Ucrânia, o presidente do Brasil chegou a afirmar que o país era solidário com a Rússia. Por certo, o presidente, mesmo a despeito de ser constitucionalmente chefe de Estado, não falou em nome dos milhões de cidadãos brasileiros de bem que condenam, com veemência, essa chacina.

A posição dúbia e vacilante do representante do Brasil, obviamente, orientado pelo Palácio do Planalto, ante a Organização das Nações Unidas(ONU) pediu, de modo protocolar e refinado, bem ao estilo Itamaraty, o estabelecimento de um impossível diálogo entre os dois países do Leste, mas foi posto de lado, dessa vez de modo nada protocolar, com a resolução da Assembleia Geral da ONU que condenou a Rússia pela invasão à Ucrânia.

Do mesmo modo, o Tribunal da Haia deixou claro que investigará a Rússia por crimes de guerra e contra a humanidade. Com isso, o colega russo do presidente do Brasil poderá se tornar réu no Tribunal Internacional por crime de genocídio.

O chefe do Executivo nacional disse ainda que adotará um discurso neutro em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia. Na contramão do que pensa o mundo, o chefe da nação brasileira diz atrelar as suas decisões, de caráter personalista e frio, ao que querem os brasileiros nesse momento. Nada mais falso.