Jair Bolsonaro é cansativo de tão inepto. Quem o escolheu conscientemente, acreditando que o Brasil haveria de dar uma virada rumo ao liberalismo econômico, à competência administrativa e ao empoderamento das instituições para um combate eficiente à corrupção, precisa se perguntar como isso seria possível sendo ele um deputado obscuro, defensor de pautas sem qualquer relevância — a não ser para seu eleitorado tradicional —, além de ser saudoso de uma ditadura que somente os incultos creem ter sido um tempo em que a autoridade moral e a capacidade de gestão prevaleceram. Quem votou nele inconscientemente, levado pela onda de indignação infantil que só fez subir desde 2013, tem tudo para continuar cometendo o mesmo erro não porque seja tacanho pela insistência, mas porque não faz a menor ideia da complexidade deste país.
A guerra da Rússia contra a Ucrânia apenas joga luz na sobeja incapacidade de Bolsonaro. Os russos podem ser grandes produtores de fertilizantes, mas fazer uma viagem a Moscou apenas por causa disso não se justifica. Até agora, tem-se uma vaga ideia da pauta tratada entre ele e Vladimir Putin. Com presidentes anteriores, as razões de visitas assim eram bem mais claras. A comitiva fazia questão de passar, via imprensa, os avanços obtidos, os acordos firmados e, até mesmo, os pontos que precisavam ser arredondados entre os dois lados. Com Bolsonaro, nada disso aconteceu.
A irrelevância da viagem seria apenas razão de especulação — entre elas, a de que parte da comitiva esteve com o submundo cibernético russo para tornar mais instável a democracia brasileira, à medida que as eleições forem se aproximando e firmar-se a certeza de Bolsonaro ser expelido no primeiro turno — não fosse a invasão do território ucraniano, poucos dias depois. E, como mau militar que foi, largou uma estultice quando comentou o recuo das tropas russas com um malandro "coincidência ou não". A incapacidade para avaliar uma tática de guerra apenas lhe renderam os mais deliciosos deboches nas redes sociais.
Com a guerra, Bolsonaro deixou o Brasil em má situação. O Itamaraty teve de dar um triplo mortal carpado malfeito para tentar contornar a postura presidencial errada. O estrago, porém, está aí. Para os embaixadores de importantes países, que se reuniram em Brasília, na semana passada, para cobrar uma postura veemente do país, restou a certeza de que o amadorismo arrogante é uma regra no atual governo, capaz de contaminar até mesmo setores do Estado habitualmente refratários a influência de palpiteiros — como o Ministério das Relações Exteriores. Bolsonaro deu aos representantes dessas nações a triste certeza que muitos de nós temos: com ele, o Brasil não é um barco desgovernado, e sim um barco cujo comandante insiste em navegar próximo dos rochedos, apesar dos insistentes avisos.
Isso não quer dizer que o país será abandonado no grande jogo da geopolítica, nem deixará de ser (muito) respeitado por suas capacidades e habilidades. É incontestável que o Brasil está, sim, apequenado e mediocrizado por uma figura de baixa estatura. A situação é grave, mas não é incontornável. Ainda bem.