A Rússia não está apenas massacrando ucranianos, ao invadir o país comandado por Volodimir Zelenski. Está empurrando sua população para uma gravíssima crise econômica, que pode trazer de volta os fantasmas da miséria e da fome, muito presentes no início dos anos 1990. No primeiro dia útil após a decretação de pesadas sanções pelos Estados Unidos e a União Europeia, os russos correram para os bancos a fim de sacar o que pudessem para se protegerem de uma quebradeira geral. Os regastes de recursos foram tamanhos, que duas das maiores instituições financeiras da Rússia, o Sberbank e o VTB Bank, correm o risco de falir, sobretudo se forem efetivamente excluídos do Swift, a rede bancária mundial.
O ditador russo Vladimir Putin acreditava que conseguiria subjugar a Ucrânia com facilidade, sem uma reação à altura do mundo. Não só errou nos cálculos da guerra, como estimulou restrições econômicas sem precedentes à Rússia. Em apenas um dia, o rublo perdeu 30% de seu valor ante o dólar. A Bolsa de Valores não abriu as portas temendo um colapso. O Banco de Compensações Internacionais (BIS), o banco central dos bancos centrais, anunciou o bloqueio de US$ 122 bilhões de russos, incluindo o próprio Putin, dos quais US$ 24 bilhões estão na Suíça, uma nação tradicionalmente neutra. A determinação do Ocidente é sufocar a produção e o consumo na Rússia, para que a população se volte contra o líder supremo do país.
Hoje, o grosso da população russa está apoiando Putin, baseada em uma campanha maciça de notícias falsas. Praticamente toda a mídia da Rússia segue as orientações do governo, temendo represálias. Os jornalistas dissidentes estão sendo ameaçados de banimento. Não podem sequer usar a palavra guerra. Fake news, no entanto, não sobrevivem à realidade econômica. Ao se verem privados de produtos básicos para a sobrevivência, os russos se darão conta de que foram enganados. Nenhum governo resiste à derrocada econômica como a que pode ocorrer na Rússia. Nem mesmo o governante mais autoritário, até porque as restrições atingem a elite corrupta que dá suporte ao Kremlin.
A perspectiva é de que o Ocidente feche ainda mais os dutos financeiros da Rússia, caso Putin insista em não negociar uma retirada pacífica de suas tropas da Ucrânia. Grandes multinacionais, em especial as que atuam no mercado de petróleo, já avisaram que sairão do país. Esse movimento deve se replicar em outros setores econômicos. A debandada de investimentos significará menos emprego e renda. Fora do sistema financeiro internacional, a Rússia não conseguirá fechar contratos de importação e de exportações. A escassez de mercadoria elevará a inflação, o pior imposto sobre os mais pobres.
Como os efeitos das guerras não são localizados, o mundo terá de lidar com as adversidades econômicas. O Brasil, em especial, pagará um preço altíssimo. O país é dependente de fertilizantes vindos da Rússia. Sem esses insumos, os agricultores terão de pagar mais caro para comprá-los em outros países. Para cobrir esses custos extras, aumentarão os preços dos alimentos. A mesa dos brasileiros ainda será impactada pela valorização do trigo, já que os russos são grandes produtores do grão. Outra consequência será a elevação das cotações do petróleo, com reflexos nos preços dos combustíveis nas bombas dos postos. Enfim, a fatura será generalizada. Preparem o bolso. A culpa é de Putin.