opinião

Visto, lido e ouvido: Bancada do paraíso

Circe Cunha (interina)
postado em 27/03/2022 06:00
Presidente Jair Bolsonaro e deputado Marco Feliciano (Republicanos-SP), em meio à bancada evangélica -  (crédito: Marcos Corrêa/PR)
Presidente Jair Bolsonaro e deputado Marco Feliciano (Republicanos-SP), em meio à bancada evangélica - (crédito: Marcos Corrêa/PR)

Existe uma diferença estelar entre o que hoje é a autodenominada "bancada evangélica" e o próprio Evangelho, conforme apresentado no Novo Testamento da Bíblia cristã. Mesmo quanto ao significado dessa palavra grega, traduzido como "Boa-nova", essa distância só poderia ser aferida com a utilização de unidades de medidas astronômicas (au), ainda mais quando se analisa, de perto, o real significado e o que é e pretende, de fato, essa bancada, organizada sob a falsa pele do evangelismo. 

De boa-nova, já se sabe, nada trazem de bom e que possa ser aproveitado pelo eleitor, mesmo aquele cujo fanatismo turva a visão e a razão. Trata-se aqui de uma bancada, que, à semelhança das bancadas do boi e da bala, são organizadas apenas para somarem forças e, com isso, garantir o máximo possível de vantagens para cada um, isoladamente, e para seus nichos específicos, dentro da autêntica e velha máxima do toma lá, dá cá. 

Não há boa-nova possível em práticas velhas, assim como não é prático colocar-se remendo novo sobre tecido velho. Ainda que fôssemos imaginar que a formação de uma bancada dessa natureza obedeceria às regras do jogo que é jogado no Legislativo, ainda assim estaríamos diante de uma aberração e negação do que seria uma boa-nova. 

Quando se trata de um jogo viciado, recorrente dentro do parlamento, em que as boas práticas da ética costumam ser postas de lado, e quando o próprio sentido de República é, seguidamente, conspurcado em benefício de um individualismo tacanho, não há alcunha possível capaz de nomear um grupo político, com o carimbo de evangélico. O que se tem aqui é o mais puro homo homini lupus. 

A questão curiosa aqui é que o cidadão eleitor jamais foi brindado com a formação da bancada da ética ou a bancada dos princípios republicanos. Ou mesmo com a criação da bancada da lei, dos fins dos privilégios e outras do gênero, que viessem impor o mais básico dos princípios: o povo paga e manda. Não surpreende, pois, que, como ocorre com outras bancadas de pressão política, os escândalos se sucedem nesse nicho evangélico, como numa rotina monótona e pachorrenta do cotidiano. 

A separação entre Igreja e Estado, princípio básico do modelo republicano e dos direitos humanos fundamentais, é relegada a terceiro plano, quando forças políticas, camufladas de religiosos, passam a interferir no ordenamento do Estado, exercendo pressão negativa para renúncias de impostos, para indicação de membros dessa e daquela igreja para ocuparem cargos dentro dos Três Poderes e outras estratégias, em que o cristianismo pertenceria apenas aos césares e àqueles que encontraram nas benesses e mordomias do Estado, o céu ou o paraíso. 

O escândalo do momento, envolvendo o atual ministro da Educação e um grupo de evangélicos que, supostamente estariam sendo favorecidos com o orçamento bilionário dessa pasta, é apenas a ponta menor e visível de um gigantesco iceberg a remover o leito do oceano e a mistura sobre o que é de Deus e o que não é.

» A frase que foi pronunciada

De todos os homens maus, os homens maus religiosos são os piores.

C. S. Lewis

Personalidade

Muita gente não sabe, mas a mãe do jornalista Chico Sant'Anna foi uma das primeiras professoras na Casa Thomas Jefferson, em Brasília. Norma Corrêa Meyer Sant'Anna, conhecida como Mrs. Sant'Anna. Depois lecionou inglês no Gila-Ginásio do Lago, francês na Aliança Francesa e português na Escola Americana. Chegou a Brasília, com os quatro filhos, em abril de 1958. Chico Sant'Anna tinha 6 meses de vida. 

Eleições, nada mais

Mais uma vez os donos das mídias sociais atacam. Para empresários e em vários seguimentos de trabalho, a lista de transmissão no WhatsApp facilitava a comunicação. Agora, com a atualização, foi extinta. Parece que nada mudará neste ano. 

Furos X Furadas

Em 28 de setembro, nas últimas eleições, o mais conhecido instituto de pesquisa paulista apontou a vantagem de Haddad: 45% para o petista, contra 39% de Bolsonaro. Dilma seria senadora, João Doria iria para segundo turno, Zema estava na lanterna. É sempre bom voltar ao passado apenas para estudar. 

Empoderamento

Dentro das iniciativas de valores femininos, está o Festival de Filmes de Mulheres. Para quem se inscreve na página, as opções são variadas. Veja no Blog do Ari Cunha.

» História de Brasília

O deputado Raul Pilla acusa o sr. João Goulart pelo não funcionamento do regime. Ora, se um homem pode atrapalhar um regime, é mais fácil o regime não prestar que o homem. (Publicada em 20.02.1962)

 

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