Guerra no leste europeu

Marcos Paulo Lima: Agro, fertilizantes e futebol

Marcos Paulo Lima
postado em 12/03/2022 06:00
 (crédito: Breno Fortes/CB/D.A Press)
(crédito: Breno Fortes/CB/D.A Press)

Tão longe, tão perto, a Guerra no Leste Europeu ameaça minar o campo dos negócios do futebol brasileiro. Se você tem um time do coração e dá de ombros para a crise dos fertilizantes provocada pela invasão da Rússia à Ucrânia, recomendo ficar ligado no noticiário.

O agronegócio, que caiu 0,2% em 2021, mas representa quase 30% do Produto Interno Bruto (PIB), sofre o impacto do conflito. O que isso tem a ver com o futebol? Esse setor da economia passou a injetar muita grana nos clubes. Nossa nação é a quarta maior consumidora de adubos e líder mundial em importação. Os insumos vêm das terras dos rivais políticos Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky.

O Ibope Repucom publicou recentemente o mapa dos patrocinadores dos clubes da elite do Brasileirão. A pesquisa agrega Botafogo, Cruzeiro e Vasco. O trio disputou a segunda divisão em 2021. O relatório apresentado pelo Head do instituto, Arthur Bernardo, destaca a ascensão de investidores ligados ao agronegócio.

Ao todo, foram seis patrocínios na elite do futebol nacional distribuídos em quadro times: Chapecoense (3), Juventude (1), Cuiabá (1) e Athletico-PR (1). A Chape caiu para a Série B. Os times de Caxias do Sul (RS) e de Mato-Grosso permanecem na elite. O Furacão conquistou o bicampeonato da Copa Sul-Americana e foi vice da Copa do Brasil.

Até o ano passado, a agropecuária trabalhava para invadir o top-5 do ranking de maiores anunciantes em uniformes de times de futebol. As firmas do setor imobiliário, construção e acabamento lideram. Na sequência, o financeiro, serviços de saúde, alimentação, apostas esportivas, varejo e... agronegócios!

Quem estava com o boi na sombra, hoje tem de ir à luta. O Cuiabá ostenta contrato de R$ 2,7 milhões por ano com a Agro Amazônia em troca de espaço publicitário no ombro da camisa, nas placas do Centro de Treinamento e da Arena Pantanal, painéis na sala de imprensa e nas redes sociais. O Juventude recebeu aporte da New Holland Agriculture, multinacional especializada em tratores e colheitadeiras.

A crise dos fertilizantes ameaça até a qualidade dos maltratados gramados do futebol brasileiro. Um executivo especializado em campos de jogo contou-me em conversa informal que a invasão da Rússia à Ucrânia acertou em cheio o setor. Segundo ele, o preço dos fertilizantes subiu 144% nos últimos dois anos, e disparou de vez depois das ações militares. Lá se vão 17 dias de guerra. Contratos estão sendo revistos.

Quando escrevo que a crise invadiu o campo de jogo, não é exagero. O mesmo empresário relata: como se não bastasse a pressão inflacionária do dólar para as compras de potássio, nitrogênio e fósforo importados, a Rússia atingiu em cheio, na primeira semana, uma fábrica ucraniana chamada Yara, em Kiev. Coincidência ou não, uma da maiores fornecedoras do Brasil.

Resumindo em bom futebolês: os players Putin e Zelensky estão dando um baita drible da vaca no futebol brasileiro.

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