A guerra na Ucrânia já mostrou que há também um front econômico no embate do Ocidente com o governo do presidente russo Vladimir Putin. O bombardeio de sanções contra a Rússia, reunindo um arsenal de estados e iniciativa privada sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial, vai espalhar estilhaços por todo o globo e afetar economias independentemente do envolvimento no conflito. O disparo dado ontem pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ao proibir importações de petróleo e gás da Rússia, pode se tornar um duro golpe para a economia russa, principalmente se for seguida por países europeus.
Putin ameaça contragolpear com o corte do fornecimento de gás para a Europa, o que, se levado a termo, mergulhará a região em uma crise energética, uma vez que os russos fornecem 45% dos gás consumido nas nações europeias. É um volume que não se substitui de um dia para o outro. O líder soviético anunciou que vai restringir o comércio de matérias-primas a países que aderirem ao embargo anunciado pelos Estados Unidos, com a lista de itens e nações sendo conhecida em dois dias, tempo suficiente para que definam quais países acompanharam a decisão de Biden.
Esse embate econômico vai pressionar os preços do petróleo e do gás natural ainda mais e aumentar o desarranjo em cadeias produtivas que se ressentiam dos impactos da pandemia da covid-19, elevando também preços de commodities e metais. O cenário é de escalada inflacionária em todo o mundo, com risco de escassez de fertilizantes em um primeiro momento e de alimentos em outro. Se demorou a reagir para socorrer os brasileiros que estavam na Ucrânia, que só agora, passadas duas semanas da guerra são retirados da região do conflito — ao contrário de outros países —, o presidente Jair Bolsonaro precisa deixar a postura de dar sugestão ou afirmações abertas e efetivamente governar.
E entenda-se por governar a decisão de tomar medidas efetivas para proteger a sociedade brasileira dos estilhaços econômicos da guerra do Ocidente com a Rússia, que não luta sozinha, indicando que o conflito pode durar semanas. Hoje, o Congresso começa a avaliar propostas para conter os preços dos combustíveis, que, na prática, estão congelados no momento com a defasagem em relação à paridade internacional superior a 25%. Bolsonaro sugeriu mudança na política de preços da Petrobras e as ações da estatal desabaram.
É preciso bater na tecla da necessidade de se buscar solução permanente para a questão dos preços dos combustíveis, evitando-se medidas populistas como congelamento ou controle de preços adotadas no passado, principalmente no período da ex-presidente Dilma Rousseff. Congelar preços representa represar reajuste na ponta do consumo e reduzir as margens da Petrobras, com seus custos subindo e a empresa impedida de remarcações. Discutir medidas temporárias como um subsídio pago pelo Tesouro Nacional — leia-se, pago pela sociedade brasileira que recolhe impostos —, a exemplo do que foi feito no governo Michel Temer, terá um custo superior a R$ 30 bilhões nas contas preliminares e não é solução permanente.
Subsídio temporário não é solução que se espera para a questão energética, que envolve também o gás de cozinha. Ela foi adotada em 2018, após a greve dos caminhoneiros que parou o país por uma semana, e não resolveu o problema, que bate à nossa porta novamente. Tirar do caixa dos estados pura e simplesmente com mudanças no ICMS ou medidas temporárias não resolvem, principalmente se os preços do petróleo efetivamente superarem a barreira de US$ 150 o barril do tipo Brent. Ontem, as cotações passaram de US$ 130, recuando no fechamento, mas em alta, próximo a US$ 128. Só desde o início da guerra, em 24 de fevereiro, o barril de óleo está US$ 32 mais caro. Impedir o impacto no preço da gasolina é obrigação. Mas postergar o reajuste e simplesmente empurrá-lo será irresponsabilidade.
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