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Irlam Rocha Lima: Um ícone brasiliense

Irlam Rocha Lima
postado em 08/03/2022 06:00
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Renato Matos inaugurava a sua primeira exposição de pinturas em Brasília, quando eu iniciava a minha trajetória no Correio. Fui entrevistá-lo na Galeria Porta do Sol, que existia no começo da W3 Sul. Não escrevia sobre artes plásticas, mas fiquei curioso, pois sabia que aquele jovem, recém-chegado de Salvador, era também ligado à música. Tinha ouvido Taba, de autoria dele, gravada por Ricardo Chaves numa coletânea com a participação de cantores e grupos baianos, que, depois, se destacaram no movimento da axé music.

O público começou a prestar a atenção em Renato, como cantor e compositor, em apresentações no Concerto Cabeças, que ocorria no gramado da 311 Sul, e ouvindo Um telefone é muito pouco, que tocava bastante na Rádio Nacional e transformou-se num clássico da música brasiliense. Ele se tornaria conhecido como regueiro, embora em suas criações não se ativesse apenas ao ritmo originário da Jamaica.

Tenho acompanhado a carreira de Renato desde sempre, assistindo shows dele, tanto no Cabeças — inclusive quando passou a ocorrer na rampa acústica do Parque da Cidade —, quanto em outros locais, principalmente no Bom Demais, na 706 Norte. Naquele bar, que entrou para a história do circuito noturno da cidade, ele e Cássia Eller eram as atrações.

Amigo de Cássia, dividiu com ela o palco da Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional, na despedida da cantora, antes de ela partir para o Rio de Janeiro e de fazer sucesso nacionalmente. Juntos fizeram o espetáculo Ondas tropicais, dirigido por Hugo Rodas e produzido por Celso Araújo. Renato foi próximo, igualmente, de Renato Russo, a quem conheceu na casa do ator Marcelo Beré, a trupe teatral UdiGrudi. Ele me contou que, certa vez, passou acordes de blues para o criador e líder da Legião Urbana, que à época tocava o projeto Aborto Elétrico.

Na sua extensa obra, Renato Matos contabiliza algo em torno de 30 músicas que fazem referência à capital federal. Há, por exemplo, Guará 1 e 2 Via Eixo, em que num trecho da letra diz: "A menina que eu amo, me deixou para depois/ Porque eu moro no Guará 1 e ela mora no Guará 2". Já em Menina do Parque (que compôs com o poeta Luis Turiba), ele canta: "Toda vez que você passa/ com seu compasso de garça/ Todo parque se disfarça em passarela/ Tudo pira, tudo paira à tua espera/ No pedalar da sandália, no walkman da donzela".

Com 70 anos, completados na última sexta-feira, ele lançou cinco discos, várias compilações e mantém-se ativo, em produção constante. Uma das composições mais recentes é a balada Canto enviesado, que tem a poeta e jornalista Angélica Torres Lima como parceira. No documentário Zirig-dum Brasília — A arte e o sonho de Renato Matos, foi reverenciado pelo cineasta André Luiz Oliveira. O filme recebeu quatro prêmios no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro de 2014. Como se vê, falamos de um ícone de Brasília.

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