OPINIÃO

Artigo: "Homenagem à mulher"

Correio Braziliense
postado em 07/03/2022 06:00

Por ELIZABET GARCIA CAMPOS — Psicóloga, professora da FVG, foi secretária de Estado da Administração do DF

Para homenagear o Dia Internacional da Mulher, é preciso considerar itens importantes como o contexto cultural e histórico, as conquistas alcançadas e as políticas públicas ainda carentes no cenário brasileiro. Nada mais delicado e adequado para definir esse ser humano como aquele que dissemina a luz, a alegria, a esperança e ser a matriz da humanidade — que só continua sendo humanidade — por causa da mulher, que é vida e gera a vida.

Estamos vendo e vivendo a expressiva participação feminina na construção de uma sociedade que busca ser melhor. Com esse olhar, quero voltar no tempo e relembrar um pouco a figura da mulher, nesses pouco mais de 500 anos da história brasileira e o seu legado na formação do nosso povo. Estendo meu olhar de homenagem à mulher-mãe índia e à mulher-mãe negra, tão sofridas e massacradas pelas circunstâncias históricas, vistas como objeto de trabalho escravo e meras parideiras de crianças que, sendo filhas mulheres, continuaram por séculos cumprindo o mesmo destino triste das mães: o de continuarem escravas e parideiras para o senhor branco. Incluo nesta reflexão a sinhá branca que, dentro de sua crueldade, era também uma mulher sofrida, submissa, sem direitos e que, portanto, se iguala à mãe- índia e à mãe- negra, pela condição de ser apenas uma simples mulher.

Essas mulheres, apesar de tudo, não perderam a fortaleza do espírito, a doçura e a fé, determinando a índole amável, o princípio do amor familiar, a alegria, a espiritualidade e solidariedade do povo brasileiro. Foi uma longa e sofrida caminhada até os dias de hoje, com luta e determinação para o alcance e reconhecimento de seus mais óbvios direitos. A imagem da mulher submissa e de sentimentos aprisionados não se encaixa nos dias de hoje e parece cada vez mais distante. É preciso deslocar a discussão contemporânea sobre o movimento das mulheres do passado, o quanto foram oprimidas para o futuro, como estão utilizando a liberdade e o poder que já conquistaram.

Nunca antes na nossa história a mulher teve a possibilidade de fazer tantas escolhas. Mas as escolhas também representam renúncias e estas, pelas suas complexidades, precisam ser bem avaliadas. Na verdade, as escolhas com suas necessárias renúncias, na luta das mulheres, comprovam exemplos de coragem, de ousadia, quebrando tabus arraigados na cultura milenar de discriminação, violência e machismo autoritário que, infelizmente, ainda têm seus resquícios nos dias de hoje.

As vitórias alcançadas não esgotam o universo de direitos e oportunidades a serem conquistadas, e o que fazer para que a mulher cumpra seu papel na sociedade em igualdade de condições com os homens? O principal alicerce para as mudanças deve vir da educação e de princípios bem estruturados da família. Assim como são indispensáveis e necessárias, efetivas políticas públicas que desmontem o quadro de desigualdade ainda perverso, que comporta o preconceito e a discriminação, cuja forma mais opressiva é a violência física, moral e social. Ainda existem lacunas que permitem que a mulher continue a ser excluída de muitos de seus direitos de cidadã. Isso demonstra a necessidade de implementação de novas políticas públicas.

Graças ao grande esforço das mulheres para abrir espaços e se firmarem no mundo corporativo, elas têm avançado em suas conquistas em todos os campos. O ambiente profissional já considera que esse reconhecimento é um processo irreversível, apesar da permanência do masculino nas suas características: competitivo, individualista, focado em resultados de curto prazo. Mas, sem dúvida, a situação atual já comporta mais colaboração, busca de consenso, com uma liderança baseada na influência, na inspiração do que no mando , com uma visão de longo prazo, mais abrangente, com foco em propósitos que sem dúvida se identificam com as características mais femininas.

Busca-se que o mundo corporativo trate de forma estratégica o tema diversidade e inclusão; que perceba que o progresso por elas alcançado não visa ocupar o lugar do homem, mas abrir não só o espaço para a equiparação de gêneros, mas a diversidade dos perfis, de ideias, de comportamentos, de lideranças. A visão correta que precisamos construir, cada vez mais, deve ser voltada para um mercado de trabalho saudável para acolher profissionais confiantes, bem preparados e felizes em suas funções e na vida pessoal, sejam mulheres, sejam homens. É pra lá que estamos caminhando.

Apesar de algumas barreiras, as características femininas felizmente estão sendo cada vez mais desejadas pelas organizações, públicas ou privadas. No relacionamento do mundo corporativo, há avanços alicerçados no diálogo, na parceria e na cooperação. Mas o que não pode acontecer é a mulher abrir mão da criatividade, da sensibilidade e de uma atitude cooperativa, apoiada mais na intuição do que no pensamento cartesiano, pois isso é feminino.

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