Movimento Negro

Artigo: Sobre a Frente Negra Gaúcha

Correio Braziliense
postado em 05/03/2022 06:00
 (crédito: Caio Gomez)
(crédito: Caio Gomez)

João Carlos Almeida dos Santos - Presidente da Frente Negra Gaúcha

A Frente Negra Gaúcha (FNG) surge como ideia de alguns, o sonho de muitos e com a pretensão de participar da construção da sociedade brasileira. A FNG insere-se no conjunto de forças do Movimento Negro com uma participação incisiva. Dentro de um contexto de imensa magnitude que tem um histórico rico, com diferentes matizes de crenças, ideologias e objetivos, ela propunha-se a defender a representatividade negra como seu objetivo supremo.

Mas, em preliminar, é necessário dizer que esta instituição, criada em 2019, é uma associação civil com fins públicos e não lucrativos, sem cunho partidário, de caráter educacional e cultural, filantrópica, assistencial e de formação política e social e promocional. É composta por negras(os) e não negras(os) sem distinção de gênero, idade, classe social, religiosa, de escolaridade ou naturalidade. E busca a formação de uma coalizão de forças para o enfrentamento de todas as formas de racismo que estruturam a sociedade brasileira.

Com esta visão, mantemos relações com todos os segmentos da sociedade (instituições públicas, privadas, comunidades em geral, grupos políticos e religiosos etc.) traçando e cumprindo metas dentro dos espectros que nos são comuns, firmando valores sob a égide da justiça, da igualdade de direitos, da solidariedade, da transparência e da participação democrática.

Acreditamos que ações propositivas articuladas, no sentido de apoiar o acesso da comunidade negra e/ou suas representações aos espaços de poder, sejam o caminho para desmontar as estruturas racistas e promover igualdade nas relações raciais e sociais na sociedade brasileira, como estratégia de curto prazo. A participação na criação de oportunidades de debate, de formulação e implementação de políticas públicas ou outras medidas, que resultem em ações que reduzam as desigualdades sociais no médio e longo prazos, envolvendo os mais diversos segmentos sociais, é a estratégia basilar para esse intento numa visão de futuro.

Considerando o processo eleitoral que se avizinha como objetivo de ação imediata, entende-se que é necessário fomentar e articular a participação das forças sociais alijadas do poder, para que se façam representar com o maior número possível de candidaturas exitosas, desde que efetivamente comprometidas com seus anseios e lutas. Daí porque importar firmar compromissos para a implementação de projetos e a destinação de recursos para políticas inclusivas, vide por exemplo, as emendas parlamentares e/ou outras formas previstas na legislação. Outra ação imediata deve ser a articulação do movimento negro para a luta na manutenção da política de cotas para ingresso no ensino superior cuja previsão legal esgota-se em breve.

Quanto ao futuro, é inequívoco dizer inicialmente que as políticas inclusivas na educação, incrementadas nos últimos anos, propiciaram um maior acesso, em especial da comunidade negra, ao conhecimento científico, o que tem gerado resultados significativos. Este novo panorama acadêmico cria perspectiva nas relações sociais com o surgimento de uma vasta e rica produção literária, que se instaura em seus primeiros passos recontando a participação do negro na história do Brasil e do mundo. Por decorrência, surgem também inúmeras construções teóricas de uma nova estrutura das relações sociais, espaços de discussão, que tem resultado em alterações no modelo social, por exemplo, com mais ações efetivas no combate ao racismo, inserção nos canais de mídias sociais, o surgimento de instituições representativas no movimento social e outros desdobramentos, que já demonstram, ainda que de forma incipiente, avanços quanto a relações sociais equânimes.

Portanto, o enorme desafio dos movimentos sociais está na construção de um plano de ações articuladas para a busca de uma sociedade igualitária, justa e mais fraterna e, também, no enfrentamento da oposição dos grupos privilegiados, que se locupletam do poder e resistem às mudanças desta conjuntura.

A luta não será pequena, mas, como nos ensina o ex-governador gaúcho Olívio Dutra: "Uma luta semeia consciência e ideais".

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