Empreendedorismo

Valdir Oliveira: Os eventos, os negócios e o chão da praça

Valdir Oliveira - Superintendente do Sebrae no DF

O compositor cearense Fausto Nilo fez o hino que eternizou o carnaval baiano. Chão da Praça retrata o que a música e a poesia podem fazer com a alma das pessoas. Não existe tristeza na celebração popular. É na alegria que o pobre e o rico se igualam, porque ambos são capazes de balançar o chão da praça igualmente. A tristeza deprime; a alegria é o resgate de vidas. 

Como faz falta o tremer do chão da praça. A pandemia, dentre os males que causou, nos tirou a alegria de viver. O brasiliense sempre foi de festejar, mas o medo nos fez guardar o sentimento e o recolhimento nos fez perder a química do encontro, do abraço e do beijo. Trocamos o carinho do encontro pelo medo, nos isolamos. Entristecemos nessa pandemia. 

Mas a tristeza não é só do vazio do chão da praça. Ela está batendo forte nas milhares de famílias que estão há dois anos sem trabalhar. Neste período, em Brasília, foram fechadas cerca de mil empresas do segmento de eventos. Hoje, são quase sete mil empresas ativas na cadeia produtiva de eventos do Distrito Federal. Impera o desespero dos pais e a dependência da solidariedade para a sobrevivência das famílias. 

Não foi a primeira vez que o setor de eventos se preparou para voltar. Quem tinha recursos, investiu para esse carnaval. Cachês pagos, estrutura contratada e ingressos vendidos. Tudo isso gira como se fosse um motor no qual o combustível é o dinheiro e a força motriz é a alegria das pessoas no chão da praça. 

Mas, quando tudo estava preparado, veio a piora da crise sanitária. O risco do aumento da contaminação obrigou o Estado a impedir aglomerações, proibir festas públicas e privadas. Os eventos têm no seu DNA a aglomeração, isso é inevitável. Os ingressos vendidos tiveram que ser devolvidos, os cachês e estruturas pagas ficaram como crédito para uma próxima oportunidade. A conta não fecha. Os negócios que compõem essa cadeia produtiva, quase a totalidade formada de pequenos negócios, se prepararam com investimentos, mas não puderam operar, porque os eventos foram suspensos. São investimentos que redundaram em prejuízos imensos. Assim foi este carnaval e assim tem sido os últimos dois anos para as empresas do segmento de eventos. 

A propagação do coronavírus deve ser combatida. Nenhuma vida deve ser arriscada para manter os negócios funcionando. Mas tudo indica que iremos conviver com esse vírus e essa pandemia por mais tempo. A grande arma para proteção das vidas já foi apresentada: a vacina. Ela nos proporcionou conter, em grande escala, a gravidade da doença. Os exames, mais acessíveis, ajudam a detectar os contaminados, mesmo os assintomáticos. Quem sabe não seja esse o caminho para iniciarmos a celebração com os eventos? Os vacinados e testados estão protegidos contra as formas mais graves da doença. E estes podem voltar a celebrar a vida no chão da praça. 

Mas não adianta o esforço do governo e das empresas do segmento de eventos se todos nós não tivermos consciência da nossa responsabilidade. Os primeiros responsáveis pela nossa saúde somos nós mesmos. As empresas estão se preparando para um controle rigoroso em forma de aplicativo para os vacinados e devem investir nos testes preventivos de covid. Mas a responsabilidade primeira é de quem quer voltar para celebrar no chão da praça. 

Não é razoável demonstrar repulsa à corrupção e, ao mesmo tempo, tentar formas de burlar os protocolos de segurança. Esse deve ser o controle social. O governo não pode responder pela consciência das pessoas, e não adianta colocar nas autoridades a responsabilidade única pelo controle da pandemia se não fizermos a nossa parte. Sem essa consciência e atitude da sociedade, não restará outra alternativa senão o impedimento da realização dos eventos. E se esse for o caminho, a sociedade precisará arcar com uma política de renda mínima, ou auxílio emergencial, para aqueles impedidos de se sustentar pelo seu próprio trabalho. 

Leigos não podem debater a ciência. Essa pauta deve ser dos especialistas, a quem devemos respeitar. Mas a sociedade precisa apoiar quem está sofrendo por não poder trabalhar. As famílias desassistidas e as empresas inviabilizadas precisam ser resgatadas por nossa sociedade. 

A pandemia não acabou e o coronavírus continuará trazendo riscos às nossas vidas. Os protegidos — vacinados e testados — devem ocupar o chão da praça e fazer brotar a alegria de volta no coração do brasiliense. Somente a responsabilidade de todos nós evitará que a retomada dos eventos se torne um problema para todos. 

A fé na música cantada por Fausto Nilo pode trazer a alegria, os negócios e empregos da Brasília que ganhará a guerra contra a pandemia. Temos todos esperança de dias melhores, com a celebração da vida e a tão desejada geração de empregos, respeitando os que empreendem em suas vocações e amenizando a dor dos que sofrem com a tristeza do isolamento. 

Que Deus abençoe o empreendedorismo do Distrito Federal.

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