O modo Putin de agir quando ameaçado, em resoluções de conflitos, ficou conhecido mundialmente pela primeira vez em Beslan, na Ossétia do Norte. Em 1º de setembro de 2004, terroristas chechenos fizeram mais de 1.100 pessoas como reféns, incluindo 777 crianças, em uma escola local.
Os sequestradores foram enviados pelo checheno Shamil Basayev, que exigia o reconhecimento da independência da Chechênia e a retirada de tropas russas da região.
No terceiro dia do impasse, as forças de segurança russas invadiram o prédio com o uso de tanques, foguetes incendiários e outras armas pesadas. Mais de 330 pessoas morreram, incluindo 186 crianças. A ação resultou na consolidação do poder de Moscou na região.
Em 2007, a Rússia instituiu a Pax de Putin na Chechênia. Após anos de conflito na região, Moscou colocou no poder seu aliado Ramzan Kadyrov como chefe da república chechena. E deu certo para Moscou. Acabou o terrorismo checheno em território russo.
O modus operandi de Putin na Chechênia indica ser o mesmo na Ucrânia, apesar das várias conjecturas ocidentais e incertezas de cenário. A ação do czar do século 21 será pontual. O reconhecimento de independência das regiões de Lugansk e Donetsk foi apenas o acender do charuto e o primeiro shot de vodka.
O Ocidente, como sempre, ameaçou com sanções e palavras subjetivas que devem ter feito Putin dar risada. Biden já falou que não colocará tropas americanas na região, ou seja, ninguém irá bater de frente militarmente com Moscou, que parece pouco preocupada com sanções.
Podemos falar que estamos em uma nova Guerra Fria? Talvez, mas pouco provável que ela irá esquentar. Moscou e o mundo continuarão com a Pax de Putin. O czar ex-KGB fará uma ação pontual na Ucrânia para derrubar o poder de Kiev, assim como feito na Chechênia, e colocar alguém pró-Kremlin, que afaste qualquer intenção da Otan no território ucraniânio. Como a população local irá reagir? Eis a questão. Teremos uma guerra civil? Essa é a principal preocupação.
Os civis ucranianos estão deixando Kiev. Poucos estão dispostos à guerra, apesar da propaganda local. Atualmente, a Otan rejeita a participação do país no grupo. E tudo fica no falatório diplomático. É quando Putin, enxadrista, ganha tempo e prevê movimentos.
As potências podem acenar uma resposta solidária em prol da população local, emplacar campanhas #stopputin. Porém, apesar das cartas estarem expostas na mesa, ninguém irá arriscar as melhores, mesmo com a barganha do gás natural. Qual seguradora aceitaria cobrir um carro que está prestes a ser roubado? E a economia mundial sentirá o baque, inclusive o Brasil.
Independentemente de discursos elevados e ameaças, a Ucrânia sofrerá com a invasão e pouco será feito. Infelizmente, os civis ucranianos pagarão o preço. As sirenes foram ativadas.