Por Miguel Ángel Panduro — Engenheiro de telecomunicação e CEO da Hispasat
A extensão territorial, sua diversidade cultural e geográfica e uma economia, ao mesmo tempo, resiliente e dinâmica são alguns dos fatores que fizeram do Brasil um dos países mais promissores do mundo para as soluções de comunicação via satélite. Desde que o setor de telecomunicações foi aberto para a iniciativa privada, no fim do século passado, venho testemunhando os inúmeros avanços que a comunicação via satélite proporcionou aos brasileiros.
A partir dessa tecnologia milhões de pessoas tiveram acesso facilitado ao enorme conteúdo provido pelas emissoras de televisão, extensas zonas rurais foram dotadas de conectividade, o que as permite acesso à internet e muitos outros usos, como o desenvolvimento de milhares de pessoas por meio do ensino a distância ou da telessaúde.
Como executivo de uma das principais operadoras de satélite do mundo e com forte atuação na América Latina, conheço bem o Brasil e fui um dos pioneiros a defender investimentos no país. Com efeito, adquirimos em 2001 os direitos da banda Ku da posição orbital 61º Oeste, da soberania brasileira. Foi uma decisão acertada.
Mais de 20 anos depois, embora não mais morando no Brasil, permaneço entusiasmado com seu potencial no âmbito das telecomunicações. Tanto que, no final de 2021, aumentamos nossa participação na filial Hispamar Satélites, passando a deter a integralidade do capital, em sinal inequívoco de nossa confiança e otimismo com o Brasil, seja para os negócios quanto para o desenvolvimento humano de milhões de brasileiros.
Acreditamos que a comunicação via satélite será o motor da conectividade digital no Brasil e peça fundamental para a distribuição de conteúdo audiovisual no país. Por isso investimos cerca de R$ 10 bilhões na América Latina nestes 20 anos para estabelecer uma infraestrutura de satélites de ponta e continuaremos investindo para ser um grande parceiro para o desenvolvimento brasileiro no futuro.
Não podemos deixar de ter em mente que a comunicação via satélite é fundamental para levar internet e conteúdo para muitas comunidades rurais, além de ser essencial para serviços públicos como saúde e educação em localidades remotas. Ainda, a comunicação via satélite desempenha papel relevante para os setores agrícolas, energético e de logística, que sustentam o PIB brasileiro. E devemos também considerar que a infraestrutura de satélites pode desempenhar um papel chave nos desafios de longo prazo, como a garantia da segurança cibernética e defesa do país.
Além disso, em um momento em que o Brasil migra sua tecnologia de telefonia celular para a de 5ª geração (5G), novas oportunidades se abrem para a comunicação via satélite. Este plano contempla a ocupação de parte da Banda C (faixa de frequência 3,5 GHz) atualmente usada para a transmissão de TV gratuita via satélite (TVRO).
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) definiu que as emissoras passem a usar para a TVRO por satélite a Banda Ku. Na escolha da infraestrutura satelital a ser contratada para esta migração, é preciso responsabilidade para levar em conta, entre fatores sociais, comerciais e econômicos, a melhor solução técnica, que mantenha a qualidade dos serviços atualmente contratados e permita sua expansão. Sem configurar uma trava ao desenvolvimento e aos negócios.
Os desafios que se colocam à frente do Brasil em seu caminho inevitável para um futuro mais digital necessitam de uma visão estratégica sobre a infraestrutura existente da comunicação via satélite. Decisões fundamentais serão tomadas por atores desse mercado ao longo de 2022, que precisam ser pensadas de forma estratégica e com visão de longo prazo, abertas a parcerias e empresas que podem aportar valor para o Brasil.