Política externa
"Um país não tem amigos, tem interesses", ensinou Otto von Bismarck, chanceler que unificou a Alemanha. Nos três anos de governo, Bolsonaro fez o oposto. Aliou-se ao amigo Trump e desprezou os interesses do país e os nossos principais parceiros comerciais: China, países europeus e Argentina. Ignorando seu papel de presidente, sempre tratou as relações externas, como se fossem questões pessoais, ideológicas ou religiosas. Sem preparo e controle emocional, insultou o governo chinês, o presidente da Argentina, a chanceler alemã, a esposa do presidente francês e se indispôs com Biden, que venceu Trump. Sem política externa coerente e com ações e declarações erráticas, virou um pária no mundo. Não conseguiu convite de Biden para ir aos EUA e cavou a viagem à Rússia e à Hungria, para dizer que não está isolado. É um desastre o Brasil ser conduzido por quem age como adolescente mimado, contestando toda decisão, liderança e autoridade que destoa de suas crenças: governante, dirigente de órgão internacional, como OMS, ou acordo, como o do Clima. Ele, que é militar, embora subalterno, podia aprender com oficiais superiores, mais preparados, como Geisel, por exemplo. Geisel, nos anos 1970, acabou com a política externa ideológica, de dependência e alinhamento automático aos EUA. Queria um Brasil grande e aberto ao mundo inteiro, sempre focando o interesse nacional. Viajou ao Reino Unido, França, Alemanha e Japão para estreitar laços comerciais. Reatou relações com a China e estimulou o comércio com a Rússia. Abriu dezenas de embaixadas na África e Oriente Médio. Assinou tratado nuclear com a Alemanha, garantindo transferência de tecnologia, e denunciou Acordo Militar com os EUA, porque queriam interferir no país. Havia de fato uma política externa, orientada para buscar investimentos, capitais, tecnologia e novos mercados para o país crescer.
Ricardo Pires,
Asa Sul
Deboche
Faz dias que venho testando, em uma das maiores redes de supermercados do país, a hipótese de uma compra, pela internet, de seis garrafas de "Espumantes do Sul", como parte de um pedido muito maior, e o resultado, nessas tentativas, para lá de grotesco, que parece brincadeira, mas não é, se repete assim: — Custo, R$ 115,08 — Frete (para a SQS 103) R$ 202,25 — Total R$ 317,33 — "Estimativa de entrega: 13 dias úteis". É inacreditável que um disparate absurdo como esse seja editado e continue se repetindo, como se fosse um deboche diante dos consumidores da empresa.
Lauro A. C. Pinheiro,
Asa Sul
Insegurança jurídica
Um aspecto mais amplo da insegurança jurídica que o país se depara, é o que o cidadão está vivenciando, diz respeito à burocracia e à qualidade da governança. No Brasil, a efetivação do princípio da independência e harmonia entre os poderes deixa a desejar, seja pela exacerbação de uns sobre os outros, seja pela resistência a decisões legítimas tomadas por um deles. Os conflitos se mostram também na sobreposição de funções entre órgãos de um mesmo poder ou entre a União e os demais entes da Federação. Em algumas áreas, como a ambiental e a tributária, existem pontos de atrito nos quais não se sabe ao certo quem toma conta do quê. O gigantismo e a ineficiência política e administrativa do Estado brasileiro, além do crônico desequilíbrio fiscal, colaboram com a cristalização de um ambiente hostil ao empreendedorismo e à atração de investimentos. Ademais, o atual modelo de gestão e de governança do Estado não produz as transformações necessárias para o avanço da competitividade. É preciso criar mecanismos de coordenação e alinhamento das estratégias e objetivos de médio e longo prazos. E ter uma definição clara de prioridades e responsabilidades para que se possam gerir as agendas entre vários órgãos e agências do governo para obter resultados. O que não se pode perder de vista é que tudo só funciona bem na base da confiança, um dos fundamentos básicos da vida em sociedade.
Renato Mendes Prestes
Águas Claras