O presidente Jair Bolsonaro desembarca nesta terça-feira (15/2) na Rússia ciente do estrago que uma guerra entre esse país e a Ucrânia pode fazer na economia mundial e, em particular, no Brasil. Para ele, que tentará a reeleição, o melhor é que a paz seja mantida e que todos os problemas que hoje opõem os dois países sejam resolvidos pelo caminho diplomático, como deve ser. Um conflito armado empurrará os preços do petróleo e do dólar para cima, resultando em mais inflação, o inimigo mais letal daqueles que pretendem disputar um novo mandato nas urnas.
Diante do acirramento das tensões entre a Rússia e a Ucrânia, o barril do petróleo superou os US$ 90 e já está flertando com os US$ 100 caso a guerra se concretize. Nesse patamar, não haverá como a Petrobras segurar novos reajustes nos preços da gasolina e do diesel, movimento que derruba a popularidade de qualquer governante, sobretudo pelo efeito em cadeia que provoca na economia. A estatal vem espaçando os aumentos dos combustíveis para tentar conter os estragos políticos a Bolsonaro, mas, com o petróleo nas alturas, terá de seguir à risca sua política de preços.
A Rússia, sabe-se, é uma das maiores produtoras de petróleo do mundo. A ausência do país no mercado será um desastre, uma vez que o barril do óleo já subiu mais de 90% desde o início do ano passado. Com a commodity, deve-se esperar uma arrancada das cotações do dólar, uma vez que, em tempos de incerteza, os investidores tendem a buscar proteção na moeda norte-americana. Petróleo e dólar são as principais referências para a Petrobras definir os valores da gasolina e do diesel nas refinarias e, por consequência, nas bombas dos postos. Numa guerra, não há congelamento de impostos que evite um choque no bolso dos consumidores.
Outro efeito colateral para o Brasil de um possível conflito entre Rússia e Ucrânia é a escassez de fertilizantes. Os russos são responsáveis por 30% desses produtos consumidos pela agricultura brasileira. Menos fertilizantes disponíveis no mercado significa preços mais altos. O resultado final será alimentos mais caros, o que prejudica sempre os mais pobres, maioria do eleitorado. Em 2021, a inflação passou de 10%. Neste ano, deve ceder um pouco, mas as projeções que apontam para índices entre 5% e 6% não contemplam a guerra que está no radar e que as autoridades mundiais, em maioria, tentam evitar.
Não é só: a Ucrânia é produtora relevante de trigo e milho. Boa parte desses grãos é destinada à fabricação de ração que alimenta gado, aves e suínos. Guerras devastam tudo. Sem as colheitas ucranianas, a oferta de ração cairá e os preços aumentarão. O ponto final dessa cadeia será a disparada dos preços das carnes. Por consequência, mais inflação e menos crescimento econômico — as estimativas para o Brasil apontam para queda de até 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Analistas dizem que muitos outros pontos estão em jogo. E o resultado final será sempre desfavorável para a população em geral.
Portanto, não se deve economizar nos esforços para se evitar o conflito entre os países do Leste Europeu. Bolsonaro foi alertado de todas as suas consequências. Sendo assim, dentro do diálogo que construiu com Vladimir Putin, com quem se encontrará amanhã, que use toda a retórica para convencer o aliado de que o melhor caminho para o mundo é a paz. Já houve sofrimento demais nos últimos dois anos provocado pela pandemia do novo coronavírus. Milhões foram a óbito por causa da covid-19. Uma guerra tende a ceifar ainda mais vidas. Basta!