Izadora pouco conheceu da vida. Não lhe foi dada a chance de ficar por mais tempo. E os últimos momentos dela neste mundo foi descobrindo o que de mais perverso a raça humana é capaz de perpetrar. É devastador saber do desespero dessa menina, de como presenciou o horror e, apavorada, tentou fugir dele, mas — criança que era — acabou facilmente alcançada pelo covarde que a esfaqueou. Pouco antes de morrer, contou das dores excruciantes que sentia.
Há alguns dias, duas outras crianças também tiveram um destino atroz. Leonardo, 6 anos, e Arthur, 3, foram brutalmente assassinados pela própria mãe, na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. No laudo cadavérico, uma ideia da dimensão da crueldade: a criminosa foi machucando os filhos superficialmente com a faca antes de dar os golpes que os mataram. O delegado Antônio Teixeira, responsável pela investigação, falou ao Extra sobre sua perplexidade: "O laudo é chocante. Um crime bárbaro e que abala até a gente que é mais experiente. Ela provocou essas 'lesões de hesitação' como se fossem um 'teste' da faca antes de dar o golpe mais profundo". Leonardo sofreu duas lesões de hesitação e duas profundas; e Arthur, uma de hesitação e duas profundas. Inimaginável o terror desses meninos, torturados até a morte pela pessoa que deveria amá-los e protegê-los.
Ontem, a polícia prendeu um acusado de matar mãe e filha no Sol Nascente, aqui no DF, em dezembro do ano passado. Shirlene, 38, grávida de quatro meses, e Tauane, 14, foram assassinadas a facadas.
Que tristeza que dá na alma por Izadora, Leonardo, Arthur, Tauane, Shirlene e um sem-número de vidas inocentes e indefesas violentamente destruídas, numa rotina hedionda neste país.
As atrocidades se sucedem, e não reagimos. Da comoção inicial — e apenas nos casos de grande repercussão —, passamos ao silêncio. Como pode a violência avassaladora, principalmente contra crianças e adolescentes, não ser capaz de tirar a sociedade da letargia em que está mergulhada?
Família, sociedade e Estado têm o dever de manter meninos e meninas em segurança, com "absoluta prioridade", como determina a Constituição. O poder público, principalmente, precisa encarar a violência desenfreada com a seriedade que ela exige, adotar medidas efetivas de enfrentamento. Até quando vamos banalizar essa calamidade?