Caso se confirme o que indicam alguns órgãos de pesquisa de opinião pública , sobre uma possível vitória de Lula da Silva na corrida presidencial deste ano, ficarão patentes, para essa geração e para as próximas, lições que demonstram que algumas das peculiaridades que concorreram, de forma enviesada, para a nossa formação histórica, desde 1500, continuam presentes em nosso modelo político, social e econômico atual, fazendo de nossa nação um caso a ser estudado no campo da psicologia e um modelo a ser evitado, a qualquer custo, por todo e qualquer país civilizado.
Em primeiro lugar, o que salta aos olhos é a impossibilidade de concretização do que determinam as leis, quando o que está em julgamento são interesses e pessoas poderosas. Nesse caso, são as próprias cortes de Justiça, em suas instâncias superiores, que cuidam para que nenhum processo contra as elites tenha chance de prosperar. Tal fato remete à confirmação de que nem todos são iguais perante as leis. Uns são sempre mais iguais do que outros.
Uma segunda conclusão, caso venham a ser confirmadas as previsões afoitas divulgadas pelos órgãos de pesquisa, é que o crime, apenas quando praticado por indivíduos e grupos do alto da pirâmide social, principalmente pela classe política, sempre vale a pena, porque nunca resulta em punição ou ao menos em arrependimento. A atuação política, conforme praticada no Brasil, pode ser classificada como amoral, ou seja, isenta de outros julgamentos e características de ordem ética.
Em terceiro lugar, o que uma possível vitória de um ex-presidente pode evidenciar é que leis de improbidade, crimes de corrupção, assim como a própria Lei da Ficha Limpa, são instrumentos jurídicos que não atingem o andar de cima. Nesse ponto, vale, entre nós, a máxima de que corrupção política deve ser tratada e ficar restrita no âmbito dos tribunais eleitorais, consideradas como delitos eleitorais leves.
Outra lição que poderá ser retirada de uma volta de Lula e de seu grupo ao poder é que, de fato, como disse um famoso brasileiro, cada povo tem o governo que merece. Com isso, ficará patente a tão comentada falta de memória dos eleitores e o pouco cuidado que os brasileiros guardam com relação à importância do voto e da cidadania para a vida de todos. Essa possível vitória permitiria ainda observarmos, em tempo e lugar, o ditado que vaticina que a história, quando se repete, vem em forma de farsa ou de tragédia.
Outra evidência que poderá ser retirada desse desfecho penoso das eleições é que a escolha política e ideológica para a composição do Supremo Tribunal Federal está no cerne de todos esses problemas. Mesmo com relação ao Congresso, poderá ficar confirmada sua inanição diante de descalabros que permitiram que alguém possa, de um átimo, sair da cadeia e subir a rampa do Palácio do Planalto, impávido e pronto para uma nova razia aos cofres da nação.
Não se enganem: a uma possível volta de Lula significa, antes de tudo, uma volta de seu grupo e de seus métodos. Doravante, mais sofisticados e feitos de acordo com as novas leis que, seguramente, serão elaboradas para deixar toda a atuação do "novo" governo dentro das novas balizes legais, escritas para proteger suas más ações.
Para os brasileiros de bem, que assistem a tudo calados e atônitos, a simples possibilidade de estarem vendo Lula em discursos para sua claque, atacando promotores e juízes que o julgaram e condenaram, parece um pesadelo a nos aprisionar num passado em que o subdesenvolvimento eterno é tudo que nos resta.