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Artigo: Um primeiro passo tímido

De novidade, o que as próximas eleições trazem para os eleitores é a instituição oficial da chamada Federação Partidária. Aprovada pelo Congresso Nacional durante a reforma eleitoral de 2021, essa modalidade de aglutinação das siglas deverá, além de ter os mesmos direitos e deveres dos partidos políticos, apresentar estatuto próprio, conforme estabelece a Justiça Eleitoral.

Com isso, os partidos poderão se unir para apoiar propostas em comum, sendo permitido ainda o apoio a qualquer cargo, tanto para as eleições majoritárias, quanto para as eleições proporcionais. Na prática, o que ocorre é que as mais de trinta legendas que superlotam o sistema partidário nacional, descobriram que essa pulverização de siglas ajuda apenas os donos dessas legendas e suas respectivas lideranças.

Esse novo modelo ainda está muito distante do que seria ideal, principalmente para o cidadão, que está bancando toda essa estrutura partidária e eleitoral, mas já significa um primeiro passo, rumo ao enxugamento de tantos partidos, muitos dos quais, transformados em verdadeiras empresas privadas a sugar volumosos recursos públicos. Não é por outra razão que os partidos resolveram se unir para aumentar seu capital de negociação, dentro do modelo vigente de presidencialismo de coalizão.

O alvo dessas novas federações está centrado no Poder legislativo, Câmara e Senado, onde esperam fazer o maior número possível de parlamentares. Os demais cargos se inserem nas estratégias política de cada conjunto, de acordo com suas pretensões pós-eleitorais.

Para o cidadão eleitor, pouco ou nada muda. Pode até piorar, uma vez que, com certeza, esses novos conjuntos de forças, lá na frente, exigirão novos e absurdos reajustes nos fundos Partidário e Eleitoral, aumentando também os recursos para as chamadas emendas de relator e outras prebendas

Em teoria, estaria dada a largada para o enxugamento das miríades de partidários que superlotam o nosso folclórico sistema político. O caráter permanente dessas federações, obrigadas a permanecer unidas até o último dia de mandato, confere um certo verniz de sinceridade ao modelo, mas não garante sua continuidade, o que ficará ao alvitre da decisão das novas composições dentro do Congresso podendo ser alterado, de acordo com a mudança na direção dos inconstantes ventos políticos.

Como a afinidade programática e política é sempre uma incógnita a mudar como as nuvens no céu, a união desses partidos em frentes únicas obedece aos desígnios de cada conjunto de caciques, sendo a alteração de humor de desses grupos, decisivo para a alteração das próprias federações. Ganharia o eleitor se, de fato, houvesse, com assento no Congresso, quatro ou cinco forças políticas como tradicionalmente é visto em países desenvolvidos, onde os partidos sobrevivem graças ao empenho e doação de seus militantes.

Ganhariam também os brasileiros, nesse momento de crise se ordenamentos como a Lei de Probidade Administrativa e a Lei da Ficha Limpa fossem respeitadas como deveriam. Ganhariam ainda mais os cidadãos, se fosse permitida a candidatura avulsa, livre das amarras e da indústria partidária, que parasitam nosso sistema político. O que se tem é um primeiro passo muito tímido, rumo à moralização do sistema.

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