Ana Cristina Pinho - Médica e diretora-geral do Instituto Nacional de Câncer (Inca)
Gélcio Luiz Mendes - Médico e coordenador de Assistência do Instituto Nacional de Câncer (Inca)
O câncer compreende um conjunto de mais de 100 doenças diferentes, com fatores de risco, manifestações clínicas e tratamentos distintos: é o resultado de mutações genéticas, nas quais as células cancerígenas se dividem rapidamente, com a capacidade de invadir os tecidos ao redor e órgãos adjacentes (as chamadas metástases).
A incidência e a mortalidade da enfermidade vêm aumentando em todo o mundo. De acordo com a Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (Iarc), em 2020, a doença foi responsável por quase 10 milhões de mortes em todo o mundo, e a estimativa é de que, até 2040, o número de novos casos aumente para 30 milhões. Neste mesmo ano, no Brasil, a doença causou mais de 227 mil mortes no país. (Dados extraídos Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde).
Após análise realizada e seguindo as estatísticas, o Instituto Nacional de Câncer (Inca), do Ministério da Saúde estima que, somente este ano, ocorrerão 625 mil novos casos.
Os especialistas entendem que, diante da magnitude dos números, é necessário e urgente conhecer os motivos desse aumento, bem como as formas de minimizá-lo. A União Internacional para o Controle do Câncer (UICC) propõe para o Dia Mundial do Câncer (4 de fevereiro) um trabalho conjunto para repensar um mundo em que milhões de mortes podem ser prevenidas. No próximo triênio, a campanha "Close the Care Gap", traduzida no Brasil como "Cuidado para Todos", vai promover um amplo debate sobre as barreiras que impedem a equidade no acesso aos cuidados fundamentais para o controle da doença.
Alguns grupos étnicos, como indígenas e pessoas de cor parda, têm maior risco de morte por câncer quando comparados aos demais, em especial para aquelas neoplasias associadas ao subdesenvolvimento. Dados clínicos também comprovam que os tumores malignos são mais incidentes (número de novos casos divididos pela população), bem como maior mortalidade, em pessoas com idade avançada.
Uma premissa importante na legislação que rege o Sistema Único de Saúde (SUS) é o da equidade. Esse conceito nos remete ao fundamento de assegurar àqueles indivíduos com maiores dificuldades, sejam elas econômicas, culturais, linguísticas, geográficas ou quaisquer outras, o acesso prioritário aos serviços de saúde, de modo a oferecer um cuidado igualitário para todos no SUS.
As nossas constatações são variadas e preocupantes. Com relação à prevenção, observa-se maior percentual de fumantes entre pessoas com menor escolaridade e também menor aderência aos programas de rastreamento de câncer de mama entre as mulheres com menor grau de instrução. Além disso, sabemos que o diagnóstico da doença em estágio inicial acontece em menor proporção entre os indígenas, pretos e pardos e a maior mortalidade é verificada entre alguns os grupos minoritários.
Uma proposta em andamento é a análise da trajetória desses grupos desde o acesso às informações a práticas relevantes à prevenção, ao diagnóstico, ao tratamento e ao cuidado paliativo em oncologia. A partir de então, será possível propor ações para diminuir as discrepâncias nos riscos de desenvolver câncer e promover o cuidado integral dessas pessoas.
O papel do Inca/MS, como membro da UICC e seu representante no Brasil é, justamente, propor e promover discussões e ações de comunicação, reforçando a relevância de uma atuação em rede nacional, regional e global.