A decisão do presidente da Rússia, Vladimir Putin, de invadir a Ucrânia é inaceitável sob qualquer circunstância, seja porque os ataques que já provocam mortes e ferem normas internacionais de soberania das nações, seja porque o próprio líder russo ultrapassou a linha que ele mesmo colocou ao apoiar os separatistas na região de Donbass, nos territórios de Luhansk e Donetsk. Ao contrário do que vinha afirmando Putin, as tropas russas atacam toda a Ucrânia por terra, mar e ar, incluindo a capital Kiev. Acima de tudo, é preciso dar uma chance à paz. Líderes e organismos globais têm que insistir em trazer as divergências entre Ucrânia e Rússia, a Europa e os Estados Unidos para a mesa de negociações multilaterais.
Que se advogue por um armistício para que os ataques e bombardeios não extrapolem o território e o número de países envolvidos diretamente no momento. Tudo o que o mundo não precisa, dois anos após a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar pandemia de coronavírus, é uma guerra de proporções maiores com perda de vidas e consequências dramáticas para a economia mundial, que mal se recupera dos impactos da covid-19.
Os primeiros movimentos indicam risco menor de que a guerra ganhe proporções continentais ou menos ainda globais, mas não há garantias de que isso não possa ocorrer. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anuncia que não combaterá a Rússia — pelo menos neste momento —, mas enviará soldados para reforçar aliados na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na Europa, com 7 mil deles se dirigindo para a Alemanha, onde há militares e bases norte-americanas. Anunciou ainda o aumento das sanções econômicas contra a Rússia, numa estratégia de fortalecer vizinhos aliados na região da Ucrânia — como Polônia e Romênia —, de um lado, e, de outro, minar e isolar o líder russo sem necessariamente dar munição para a expansão da guerra.
É preciso cessar os ataques e conter Putin. A estratégia dos Estados Unidos e aliados é bloquear as transações financeiras e investimentos e recursos da Rússia com o mundo, o que pode levar tempo diante das reservas cambiais e em ouro russas, que seriam superiores a US$ 700 bilhões. Mas o bloqueio pode criar problemas internos para Putin, uma vez que não há unanimidade entre os russos. Ontem houve protestos em Moscou e 1.500 foram presos, confirmando a arbitrariedade e o autoritarismo do governo russo. Aliados terão de dar suporte militar, sobretudo armamentos, para o exército ucraniano resistir às forças russas.
E a continuidade do conflito pode impor dificuldades para o Brasil que, com a guerra deflagrada, corre o risco de se colocar no pior lugar do conflito: na "linha de tiro" entre Estados Unidos e Rússia. Enquanto o vice-presidente Hamilton Mourão condenou a invasão e defendeu uma resposta firme do Ocidente, sugerindo que a ação fosse além das sanções, e o Ministério das Relações Exteriores se manifestou pela "suspensão imediata das hostilidades", apelando por uma solução pacífica, o presidente Jair Bolsonaro não se posicionou em relação ao conflito, mas orientou os brasileiros em Kiev e outras regiões a buscarem refúgio e orientações na embaixada brasileira na capital da Ucrânia.
O Brasil pode perder não apenas diplomaticamente, mas sofrendo os impactos econômicos do conflito ao qual os investidores reagiram mal ontem, derrubando as bolsas europeias em 4% na média (Moscou caiu 33,28%), elevando o preço do trigo (10%), do gás natural (36%) e do petróleo, que chegou passar de US$ 100 o barril, mas recuou e teve alta de 2%, a US$ 99. No Brasil, a Bovespa caiu 0,37%, e o dólar interrompeu uma sequência de quedas e subiu 2%. Alta do petróleo e do trigo vão aumentar a inflação, mas tem mais, pois o Brasil pode sofrer indiretamente com sanções e já teme dificuldades para a compra de fertilizantes. O governo brasileiro tem a chance de se posicionar em favor da paz de forma firme e contribuir nos esforços para evitar o prolongamento da guerra e suas consequências nefastas para a população e a economia.
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