futebol brasileiro

Marcos Paulo Lima: Supercopa do (confuso) Brasil

Marcos Paulo Lima
postado em 19/02/2022 06:00
 (crédito: Lucas Figueiredo/CBF)
(crédito: Lucas Figueiredo/CBF)

A Supercopa e a saga insana por técnicos importados sintetizam o desalinhamento do futebol brasileiro. Se a Copa do Mundo começasse hoje, Atlético-MG e Flamengo não teriam um jogador titular entre os 11 do Tite. Os times candidatos ao título, amanhã, em Cuiabá, são escalados por estrangeiros. Sinal dos tempos estranhos em um país no qual quatro ex-treinadores da Seleção estão desempregados — e poucos ou nenhum time cogita contratá-los.

Atlético x Flamengo lembra a série De volta para o futuro. Se recuarmos 40 anos no tempo, desembarcaremos na Copa de 1982. Dos titulares de Telê Santana, seis representavam o Galo ou a "Nação". Luizinho, Toninho Cerezo e Éder eram do time mineiro. Leandro, Júnior e Zico, do carioca.

Quatro décadas depois, a realidade é outra. Se avançarmos nove meses, a projeção do Brasil para a estreia na Copa, em novembro, indica ausência de jogadores do Atlético e do Flamengo entre os titulares. Auxiliares de Tite, Cleber Xavier e Matheus Bachi irão a Cuiabá observar a Supercopa in loco. Avaliarão acessórios. Gabigol, Everton Ribeiro e Guilherme Arana são considerados reservas na Seleção. Hulk, nem isso. Os titulares de seleções são gringos: Godín (Uruguai), Vargas e Isla (Chile), Savarino (Venezuela) e Arrascaeta (Uruguai).

No campo das ideias, as duas pranchetas estão entregues a técnicos importados. Embora o Triplete do Galo tenha assinatura do paranaense Cuca, o sucessor dele é o argentino Antonio Mohamed, o Turco. O Flamengo migrou de Renato Gaúcho para o português Paulo Sousa. Reflexo da perda de confiança na escola brasileira.

Os quatro favoritos ao título do Brasileirão 2022 devem ser comandados por treinadores importados. Além de Atlético e Flamengo, o Palmeiras é liderado pelo lusitano Abel Ferreira. O Corinthians anunciará sucessor europeu para Sylvinho.

Portanto, se o Timão oficializar mais um, a Série A começará com sete técnicos importados. O Coritiba apegou-se ao paraguaio Gustavo Morínigo. O Fortaleza segurou o argentino Juan Pablo Vojvoda. O Internacional investe no uruguaio Cacique Medina. Nunca antes na história deste país, os treinadores brasileiros estiveram tão em baixa, e desafiados a se reinventar.

Quando há vaga, a fila não anda nem para ex-técnicos da Seleção. Luiz Felipe Scolari, Vanderlei Luxemburgo, Dunga e Mano Menezes amargam o desemprego. Felipão foi campeão brasileiro em 2018. Mano, bi da Copa do Brasil, em 2017 e 2018.

Por essas e outras, reafirmo: a Supercopa é uma síntese do contraditório futebol brasileiro. Na contramão de 1982, os astros de Atlético e Flamengo não servem para ser titular da Seleção na Copa de 2022. A preferência é de quem atua na elite europeia — de preferência no Campeonato Inglês. Em contrapartida, os técnicos nacionais são considerados cada vez mais "despreparados" para assumir elencos caros como os que duelarão amanhã. Importados como Antonio Mohamed e Paulo Sousa, sim. Como diz minha mãe, durma com um barulho desse no confuso Brasil da Supercopa.

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