partidos políticos

Visto, lido e ouvido: Algo de podre

Circe Cunha
postado em 18/02/2022 06:00
 (crédito: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados)
(crédito: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados)

Na impossibilidade de cada um dos mais de 30 partidos políticos existentes eleger o presidente da República de seu gosto, o Congresso apressou-se na confecção do modelito das federações, capaz de contemplar cada legenda, com o máximo possível de cargos eletivos. Obviamente, na sequência dessa medida, virão os maiores benefícios e ganhos dentro do que é concebido no receituário do presidencialismo de coalizão.

A opção pelas federações de partidos foi uma fórmula encontrada para adiar o sepultamento de legendas nanicas. Trata-se aqui de um arranjo ou de um puxadinho que passa longe do que seria o ideal para o eleitor, ou seja: a existência de, no máximo, quatro ou cinco partidos, com uma honesta linha ideológica.

Não surpreende que as reformas políticas, costuradas por parlamentares, acabem sempre servindo unicamente aos propósitos de grupos políticos, e nunca em benefício e proveito dos eleitores. Em matemática, seria a representação de um conjunto vazio, ou, em outras palavras, a união de várias nulidades, cujo propósito é aquele que já conhecemos de antemão.

O que chama a atenção nas eleições deste ano é o desejo demonstrado por todos os partidos em fazer o maior número possível de parlamentares na Câmara e no Senado. De repente, todos os partidos, em uníssono, passaram a mirar suas atenções no Poder Legislativo.

É tamanho o desejo e a ânsia com que se voltam para esse Poder da República, que até o santo desconfia. O que teria de tão atraente no Legislativo que passou a ser maior o desejo das mais de 30 agremiações ao mesmo tempo?, pergunta o eleitor atento. Lamentavelmente, a resposta para essa questão passa muito longe de qualquer ideário republicano ou ético. Os caciques dessas legendas se deram conta de que o Legislativo, dentro da desvirtuação sofrida pelo dito modelo de presidencialismo de coalizão, é que comanda hoje o grosso dos recursos da União. Aí está o interesse real dos partidos. As emendas secretas, as emendas de relator, as emendas individuais e as de bancadas, somadas aos fundos partidários e eleitorais, além da distribuição de cargos no Executivo para os apoiadores do governo, passaram a representar um forte chamariz para esse enxame de partidos, que paira, como moscas varejeiras, sobre carne em putrefação.

É o retrato em preto e branco desse súbito desejo em formar bancada no Congresso. Para os cientistas políticos que preferem enxergar nuances amenas tanto na construção das federações, quanto na estratégia marota de fazer número no parlamento, relacionando todo esse movimento às exigências da política, resta, talvez, um pedido de desculpas, não sem antes chamar a atenção para o cheiro ruim que toda esses arranjos estão a exalar.

 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.