Na última sexta-feira, o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, usou o Twitter para agredir o jovem congolês Moïse Mugenvi Kabagambe, 24 anos, trucidado a pauladas por três homens, no Rio de Janeiro. Para o secretário, o congolês era um "vagabundo morto por vagabundos mais fortes". E não parou por aí. Camargo acrescentou, pela mesma mídia social, que a vítima não era "mártir nem herói" que merecesse qualquer homenagem. Embora não tivesse títulos, o imigrante, como qualquer ser humano, merece respeito, algo que parece difícil para o secretário negro, subalterno a brancos que repudiam os afrodescendentes.
Impossível mensurar a dor da família ao saber que um dos filhos, depois de ser covardemente morto por três elementos, dois dos quais com passagens pela polícia, foi rotulado de "vagabundo", uma ofensa inominável e gratuita desferida por uma pseudoautoridade federal. A família de Moïse e a parcela não racista nem nazifascista dos brasileiros não pleitearam homenagens ao jovem assassinado, porque ousou cobrar o que lhe era devido pelo trabalho prestado ao Quiosque Tropicália.
Todos exigem justiça e um basta à violência contra o povo negro. O discurso de ódio e a inconteste ignorância sobre o racismo estrutural que permeia a organicidade de Estado e infecta boa parte da sociedade nacional são autodeclarações de incompetência e desinformação sobre a história do país. Revelam a desumanização que rege as atuais políticas públicas, de uma administração federal sem qualquer empatia com a parcela empobrecida dos brasileiros, em que os negros são maioria e, portanto, vítimas também da aporofobia estatal. Acrescente-se ainda a homofobia, a misoginia, a xenofobia que, hoje, norteiam as ações do Estado.
Não à toa, o cenário de preconceitos, construído em 2018, abriu o palco para que os nazifascistas encontrassem espaço em busca de protagonismo, até então, submerso na dark web. Eis que supostos comunicadores não se intimidam e defendem, abertamente, a legalização do partido nazista. A antropóloga Adriana Dias, da Universidade de Campinas (SP) e uma das autoridades no tema, identificou 530 células neonazistas no Brasil. Em 2019, esses grupos de seres abjetos e violentos chegavam a 334.
Os neonazistas tupiniquins — pessoas com DNA miscigenado — têm como alvo os negros, os indígenas, os integrantes da comunidade judaica e os LGBTQIA . Exceto os judeus, que têm instituições organizadas e meios de proteção, o restante é alvo das mais diversas expressões de violência, sem que quaisquer medidas sejam adotadas em sua defesa. Pelo contrário. O assassinato de qualquer um deles é ignorado ou, muito eventualmente, investigado para detenção dos autores. O secretário se esquece que a sua pele negra aprisiona sua mentalidade caucasiana, detalhe que poderá torná-lo alvo preferencial daqueles aos quais é submisso.
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