Poucos são os cidadãos que têm consciência exata dos enormes riscos que correm todos aqueles que, por um motivo ou outro, acabam se tornando persona non grata para o sistema que controla a máquina do Estado e para as elites que se alimentam desses arranjos.
A maioria não percebe os perigos existentes nessa selva moderna, ou finge desconhecer para, assim, ficar longe de encrencas maiores. Quanto mais adequadamente está informado o cidadão, maior a percepção de que o Estado Leviatã, que a todos vigia, punindo de forma seletiva aqueles que atravessam seu caminho, pode, a qualquer momento se voltar contra o indivíduo, esmagando-lhe o destino como se fosse uma barata.
Esse sentimento de abandono e desproteção aumenta quando, diante dos olhos de todos e no mais absoluto senso de onipotência, as instituições do Estado, que em tese, se intitula democrático e de direito, são usadas abertamente para perseguir desafetos ou quaisquer outros que ousam se colocar como opção política ao establishment.
Nunca, em tempo algum, esteve tão em alta a fala repetida pelo filósofo de Mondubim — "aos amigos tudo e aos inimigos, a lei" — e tem feito tanto sentido como agora nos episódios que se sucedem nessa perseguição insana contra o ex-juiz Sergio Moro. A razão, por trás dessa caçada humana, é sabida, o que tornam esses episódios ainda mais grotescos e reveladores. Atravessamos um momento de inversão total dos mais elementares valores éticos experimentados pela nação.
O mais perturbador é constatar que o silêncio sepulcral em torno do assunto, revela, de um lado, o pavor que causa em muitos o poderio da máquina do Estado e, por outro, a covardia demonstrada por muitos que acreditam na máxima de que "para viver, nesses tempos adversos, basta se fingir de morto".
O que vem ocorrendo contra Sergio Moro, em que instituições, como o Ministério Público e o Tribunal de Contas da União, que deveriam zelar pela proteção à cidadania, são usadas como armas para perseguir e ameaçar o ex-juiz, a mando de próceres muito bem instalados nos Três Poderes da República, não deveria ser visto jamais como um episódio comum e sem importância.
Pelo contrário, o que ocorre contra esse cidadão é uma amostra do que pode acontecer a qualquer um e a qualquer hora. Se não há segurança jurídica até para um ex-juiz, cujo único crime foi condenar e mandar para a cadeia a nata da corrupção que ainda assola esse país, imagina o que pode ocorrer com o cidadão comum. É do silêncio de boa parte da mídia e de muitos outros cidadãos que o sistema se alimenta, tornando-se cada vez mais forte e acima das leis.
É essa covardia demonstrada por muitos que catalisam as forças do monstro. Num outro mundo, onde governos civilizados são sempre colocados a serviço da sociedade, o uso indevido do aparelho do Estado para perseguições a cidadãos constitui-se em crime da maior gravidade.
Em se tratando do Brasil do patrimonialismo descarado, malfeitos como esses ganham ares de normalidade e até de apoio por parte da Justiça.
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