Thomás Tosta de Sá - Presidente Executivo do Codemec, ex-presidente da CVM e diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA)
"Educação vem do berço". Os ditados populares consagram a sabedoria popular e poderiam ser mais utilizados na gestão da coisa pública. Há décadas fala-se que o grande problema no Brasil é a educação. Os índices apresentados em todas as pesquisas de organismos internacionais mostram que nosso ensino é sofrível. Será que estamos no caminho certo ou deveríamos buscar outra via?
Einstein costumava dizer que "insanidade é apresentar a mesma solução para um problema e esperar resultados diferentes". Recentemente , Jorge Paulo Leman , o empresário mais rico e bem-sucedido do Brasil, dizia em uma entrevista ao jornal O Globo: "A possibilidade de um país competir no mundo moderno de hoje depende da educação que dá às suas crianças".
As crianças criadas nas favelas não têm berço e não são educadas até os 6-8 anos, pois essas áreas, hoje comunidades, não têm espaço para creches e escolas de tempo integral que permitam suas mães trabalhar, como ocorreu na Coreia do Sul depois da guerra, que criou o regime escolar de tempo integral (7h30-17h) para permitir que mães viúvas trabalhassem.
No governo Brizola, no Rio de Janeiro, Darcy Ribeiro, seu secretário de Educação, fez uma experiência, bem-sucedida, de ensino em tempo integral, criando os Centros Integrados de Educação Publica (Cieps),que, infelizmente, foi abandonada em governos posteriores .
No Ceará, essa experiência foi bem sucedida, como são os cursos preparatórios para os vestibulares do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (Ita), em São Paulo, para onde se dirigem estudantes de todo o país, desejosos de cursarem uma das melhores escolas de engenharia do Brasil. O Brasil da década de 1950 era muito mais desenvolvido que a Coreia. E hoje?
A China, numa outra escala, também trouxe para a economia urbana centenas de milhões de habitantes rurais, oferecendo educação, aumentando a capacitação no trabalho, melhorando sua remuneração, criando uma infraestrutura habitacional e de mobilidade urbana de qualidade, que fez surgir uma nova classe consumidora.
Recordo-me que, há 26 anos, participei como presidente da Comissão de Valores Imobiliários (CVM), do Congresso da International Organization of Securities Commisions (Iosco), em Paris. Numa reunião com banqueiros franceses, eles apostavam mais no Brasil, como próxima potência mundial, do que na China.
Situação semelhante ocorreu com a Argentina, no final do século 19,que era considerada a economia que lideraria o mundo, na sucessão da economia inglesa, e que foi superada pela economia americana. A fantástica revolução da educação levou esses dois países asiáticos a se posicionarem como duas grandes economias mundiais. Vivemos tempos de mudanças e devemos ousar atacando o problema da educação em conjunto com o problema da habitação.
Educação e habitação, para a população de baixa renda, deveriam ser o programa de governo para o novo ciclo de desenvolvimento nacional. O Brasil tem mais de 40% de sua população nessa categoria, ocasionando um enorme desperdício de capital humano, um dos três fatores de produção na economia: capital financeiro,capital humano e capital ambiental
Juscelino teve como seu programa de governo em 1955: energia e transporte. Incentivou a indústria automobilística
Precisamos urbanizar as favelas, reduzir sua densidade demográfica, abrir espaço para creches e escolas de tempo integral, oferecendo serviços públicos de saneamento, água, limpeza, segurança, lazer, cultura e centros de empreendedorismo, para os que ficam nas favelas. Para os que saírem, poderemos criar uma nova fronteira imobiliária, com novos bairros para moradores de baixa renda, com toda a infraestrutura urbanística, social e ambiental. É fundamental que se dê a titulação de suas casas aos moradores das favelas.
É necessária a mobilidade urbana de transportes de qualidade, sejam ferroviários, metroviários e até mesmo náuticos, permitindo que as pessoas que moram longe dos grandes centros cheguem ao local de trabalho sem consumir horas no trânsito de ida e volta.
O mercado de capitais, o BNDES, arquitetos, engenheiros, urbanistas, psicólogos, ambientalistas e outros setores da sociedade podem se reunir para oferecer ao Brasil essa nova solução para a educação. É isso que o Comitê para o Desenvolvimento do Mercado de Capitais (Codemec) se propõe a debater em sua agenda, na saída da pandemia, indicando os instrumentos do mercado de capitais para a realização dos projetos.
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