Arte Moderna
Conforme mostrou matéria do CB (3/2), a Semana de Arte Moderna de 1922, emergida em São Paulo, foi um marco na história cultural brasileira. É dito que o Rio de Janeiro de então tinha essa modernidade cultural, mas o estrato intelectual paulista, herdeiro da riqueza cafeeira, o ouro da época, soube ecoar para o Brasil uma linha evolutiva cultural soprada pela vanguarda europeia. Até hoje, vemos substratos do cordão umbilical daquela semana em Caetano Veloso, Tom Zé, que, por sua vez, respingam em Lenine, Chico César... na música. Na literatura, para não se estender, um dos cânones é Catatau, de Paulo Leminsk. Todos com a veia oswaldiana. Sem adentrar nas contradições e tradições daquele recorte histórico, ressalte-se que o fator cultura era a elevação, o sumo de primeira ordem daquela elite. Contemporaneamente, não mais existe herdeiros da elite com refino cultural. Nem digo para implementar movimentos culturais. Aí, seria exigir demais. Mas, pelo menos, para abrir mão de margem mínima sequer de seus lucros com a Bolsa de Valores e dos da proliferação incessante de suas riquezas para investir culturalmente. O lastro dessa camada é o analfabetismo cultural — algum lampejo por aí? — mesclado à direita política com interesses na baixa de impostos. Sua fé maior, além do lucro, é a aliança com o conservadorismo comedor de farofa.
Eduardo Pereira, Jardim Botânico
Jardim Botânico
Colonização
Sem vaidade, eu me julgo uma pessoa com certo discernimento e espírito de observação sobre o que ocorre ao meu redor. Em razão disso, eu não me conformo com o entreguismo que caracteriza nossas estatizações suspeitas. Por que achar que os gringos são mais competentes? Trata-se de um atestado de fraqueza intelectual dos brasileiros que ocupam cargos relevantes. E o mais óbvio: os adventícios viriam para cá descascar abacaxis? Nada, vêm encher as burras (desculpe o trocadilho) com nossa burrice e deslumbramento. Pensem nessa falta de autoestima de nossos dirigentes e digam se não é desolador....
Renato Vivacqua,
Asa Norte
Bozovírus
Desde o nascimento, as crianças são vacinadas pelas mais diferentes doenças evitáveis. Ao nascer, recebem a primeira dose de BCG e contra a hepatite. Em seguida, recebem a tríplice bacteriana, antipoliomielite, antirotavírus, antipneumonia, antimeningite, contra febre amarela, hepatite, tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), contra catapora, HPV. Antes, nunca na história deste país, autoridades federais fizeram alertas contra as vacinas infantojuvenis. Pelo contrário. Havia campanhas pró-vacina, promovidas pelo Ministério da Saúde. Agora, diante da insanidade de um presidente antipovo, tem gente em dúvida se deve, ou não, vacinar suas crianças contra a covid-19, causa de mais de 630 mil mortes no país. Será que foram infectadas pelo bozovírus?
Guadalupe Gonzaga,
Park Way
Décadas
As décadas, quando terminam, ganham apelidos. Houve os anos loucos (1920), os swinging sixties (1960), a era do disco (1970) etc. Como serão conhecidos os 10 anos entre 2010 e 2019, ainda que os mais puristas digam que o novo decênio só começou mesmo em 2021? Um palpite, com grandes chances de colar: os "anos instagramáveis" (Instagram). Não tem como escapar: em qualquer canto do planeta, hoje em dia, haverá alguém dando uma viradinha no torso, erguendo o celular acima da cabeça, ajeitando o cabelo, fazendo beijinho (meninas) ou esboçando um sorriso (meninos) e clique, mais uma selfie toma o rumo do Instagram. Apresentado ao mundo em 2010 apenas para usuários dos celulares da Apple, o aplicativo gratuito de compartilhamento de fotos, com eventuais legendas curtas e possibilidade de edição com filtros divertidos, virou parte inextricável da vida das pessoas, agora ampliado para todos os sistemas operacionais e capaz de produzir vídeos de no máximo quinze segundos, os atores de cada dia, hora ou minuto. Gente comum, bichos variados, artistas, políticos, até o papa Francisco, não há quem não tenha se tornado protagonista. É um universo que se encaixa como luva na compulsão pela hipervisibilidade e na espetacularização do cotidiano, dois traços mais fortes da sociedade em que vivemos. Pesquisas mostram que, entre os usuários de smartphone, 40% tiram cinco selfies por dia e animadíssimos 15% chegam a trinta, quase todas posadas e pensadas. A mania de selfies e de sua publicação desencadeou estudos sobre o narcisismo e a obsessão pela própria imagem e sua relação com o aumento de casos de ansiedade, depressão e baixa autoestima. O maior problema é a ilusão criada na cabeça dos que acreditam naquele mundo cor-de-rosa, saem em busca dele e se frustam com a realidade. Em suma, o Instagram foi a grande marca da década, mudou o cotidiano das pessoas, ávidas por sair bem em selfies.
Renato Mendes Prestes,
Águas Claras
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