Opinião

Taís Braga: Futuro comprometido

Em março deste ano, completam-se dois anos de fechamento de salas de aula, interrupções do calendário escolar, mudança no formato de ensino e outras medidas adotadas para prevenir e evitar a infecção pela covid-19

Em 24 de janeiro se comemora o Dia Internacional da Educação. Infelizmente, se antes amargávamos pouquíssimas conquistas, hoje, quando entramos no terceiro ano de pandemia, há muito o que lamentar. Levantamento do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), divulgado ontem, mostra o impacto da suspensão total ou parcial das escolas na vida estudantil. No mundo, mais de 600 milhões de alunos continuam afetados.

Em março deste ano, completam-se dois anos de fechamento de salas de aula, interrupções do calendário escolar, mudança no formato de ensino e outras medidas adotadas para prevenir e evitar a infecção pela covid-19. De acordo com o chefe global de Educação do Unicef, Robert Jenkins, as perdas educacionais sofridas pelas crianças nesse período estão alcançando um ponto sem volta.

No Brasil, um em cada 10 alunos de 10 a 15 anos não pretende voltar às salas de aula quando as escolas reabrirem. Esse número pode ser bem maior em outras faixas etárias, em que estudantes deixaram o aprendizado escolar para trabalhar e ajudar a família financeiramente. O fechamento das escolas não provocou perda apenas no aprendizado. Jovens mudaram os planos de vida, crianças apresentam sinais de depressão. O Unicef estima que mais de 370 milhões de crianças do mundo ficaram sem a merenda escolar, benefício que, para algumas delas, era a única fonte de alimentação e nutrição diária.

Com o avanço da variante ômicron, algumas instituições de ensino — principalmente públicas — chegaram a cogitar estender o fechamento, embora professores, grande parte dos alunos (agora a população infantil começa a se vacinar) e servidores tenham recebido pelo menos duas doses de vacina. Não podemos permitir! Será necessário um grande esforço de todos para recuperar cada um dos alunos, cujos futuros sofrerão anos de atraso.

No primeiro ano da pandemia, quando pouco se sabia sobre o vírus que levou mais de 600 mil brasileiros à morte, quando não havia vacina, medicamentos, o fechamento das salas de aula, assim como de diversos setores, foi a medida protetiva mais segura então encontrada. Hoje, com o conhecimento que temos sobre o novo coronavírus, com as vacinas e com a autoridade dos professores nos locais de ensino, é possível manter as medidas de segurança e garantir a continuidade das aulas.

Retornar às salas não significa apenas retomar o aprendizado formal. E isso vale para a educação em geral, desde o ensino infantil às universidades. É preciso gerar uma nova expectativa de futuro em cada estudante, recuperar a autoestima, incentivar a busca pelo conhecimento, ajudar a ultrapassar os maus sentimentos e a sensação de fracasso. E não cabe somente aos professores. Essa será a grande tarefa da sociedade que busca um mundo melhor. Caso contrário, o futuro pode ter ficado um pouco mais distante.

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