O agronegócio tem sido de vital importância para o Brasil. Nos últimos anos, não fosse o bom desempenho das atividades no campo, certamente o país estaria mergulhado em uma profunda recessão. Com participação de 20% no Produto Interno Bruto (PIB), o setor tem criado empregos e minimizado a queda na renda. Mas os desafios colocados para as lavouras e a pecuária são enormes. Vão dos altos custos dos insumos aos eventos climáticos extremos, que têm provocado secas em parte dos estados e chuvas intensas, em outros. É o meio ambiente pedindo socorro.
Grande fornecedor de comida para o mundo, o Brasil é extremamente dependente de fertilizantes importados. Quase 90% de todo o produto consumido pelo país vêm de fora, de regiões bem complicadas. Os maiores fornecedores para o Brasil são a Ucrânia e a Bielorrússia, engolfadas por questões geopolíticas, o Irã e a China. Nos últimos dois anos, os preços dos fertilizantes dispararam, assim como os das demais matérias-primas usadas pelos produtores rurais. O resultado se viu nas gôndolas dos supermercados e nas feiras. Pelos cálculos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), os alimentos ficaram, em média, 8% mais caros em 2021. Mas houve casos de aumentos superiores a 50%, como o café.
Projeções da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) apontam que não há perspectivas de redução nos preços dos alimentos tão cedo, mesmo que se confirme a safra recorde de 284 milhões de toneladas estimada para este ano — aumento de 12% ante 2021. A estiagem que afeta o Sul do país derrubou a produção de soja, milho, arroz e feijão. Nas áreas afetadas pelas enchentes, também lavouras importantes computaram quedas. Como soja e milho são usados para a produção de ração para animais, os preços das carnes tendem a subir com força. Boa parte dos brasileiros, no entanto, já tirou a carne bovina do prato por total incapacidade de comprar o produto.
Outros pontos de alerta são o aumento da taxa básica de juros (Selic) e as restrições orçamentárias da União. Ao longo do ano passado, o Banco Central elevou a Selic de 2% para 9,25% ao ano. No início de fevereiro, deve promover mais um aumento de 1,5 ponto percentual na taxa, para 10,75%. A aposta do mercado é de que os juros cheguem a até 12% anuais, encarecendo o crédito, mola propulsora para o plantio e a colheita no campo. Quanto maior for a Selic, mais recursos o Tesouro Nacional terá de separar no Orçamento para a equalização das taxas do Plano Safra. Todos sabem que o espaço fiscal do governo está menor. Os produtores devem se preparar, portanto, para um apoio financeiro menos robusto.
Deixar o agronegócio à própria sorte será um risco enorme, pois menos produção significa mais inflação na mesa dos brasileiros. O governo precisa acordar urgentemente para os problemas já colocados, uma vez que qualquer tropeço do campo significará perda ainda maior de dinamismo da economia — não está descartada a possibilidade de recessão neste ano. Não se trata de um socorro puro e simples aos agricultores e pecuaristas, mas de desenvolvimento de políticas públicas que comecem pela redução da dependência de insumos importados e passem por mudanças na regulação do sistema de crédito e pelo incentivo ao seguro rural. Não há tempo a perder.
Os produtores, por sua vez, devem se engajar de vez nas questões ambientais. Os eventos extremos vistos desde o fim do ano passado indicam que não é mais aceitável o desmatamento de qualquer bioma, especialmente do Cerrado e da Amazônia. Florestas de pé resultam em chuvas mais regulares e calor menos intenso. É questão de urgência. Se todos derem a sua contribuição, certamente só notícias boas virão das lavouras. Bom para os brasileiros. Excelente para o mundo, que dependerá cada vez mais da comida produzida no Brasil.